Com um inquérito federal apurando as irregularidades e as instituições – públicas e privadas – que têm permitido a manutenção dos atuais níveis de poluição do ar na Grande Vitória, principalmente a partir do Complexo de Tubarão, a notícia da possibilidade de reativação das duas mais antigas usinas de pelotização da Vale soa como um escárnio contra a população.
As Usinas 1 e 2 têm meio século de idade cada uma e possuem tecnologia mais defasada que as suas sucessoras. Se a poluição do ar já está numa situação vexatória sem as duas veteranas, é preocupante pensar no que pode acontecer caso elas voltem a operar.
O discurso de geração de empregos – cerca de dois mil empregos indiretos, sendo 400 diretos – não pode continuar sendo pretexto para legitimar o potencial poluidor do Complexo de Tubarão ou de qualquer indústria poluidora, seja na Grande Vitória, no interior do Estado ou em qualquer parte do planeta.
Um dos ambientalistas que compartilha essa visão é o geógrafo Sergio Rondelli, que recebeu a notícia veiculada no jornal A Gazeta desta terça-feira (9), como “um escárnio, deboche e falta de respeito à população capixaba”. A empresa justifica a necessidade de reativação das usinas ao aumento da demanda exterior e paralisação da Samarco Mineração, da qual é controladora.
Segundo ele, “primeiro é preciso não aumentar o potencial de produção do Complexo de Tubarão; depois, planejar a desativação, o mais breve possível, das usinas que poluem mais, que estão mais defasadas”, opina
Sergio.
Em terceiro lugar, prossegue o geógrafo, é preciso investir pesado em tecnologia de ponta para melhorar a performance ambiental das usinas que poluem menos; e, por último, exigir mais transparência das empresas, inclusive sobre seus balanços financeiros, o quanto faturam, o quanto devem em multas não pagas, e também uma melhor contrapartida em educação ambiental e na contratação de empresas independentes e idôneas para fiscalizar e auditar suas performances financeira e ambiental.
É sabido que a isenção de impostos de quem gozam as empresas de Tubarão alimenta um déficit histórico e revoltante para com os cofres públicos capixabas. E a localização de seus escritórios centrais, todos fora do Espírito Santo, só piora a situação. Vale, no Rio de Janeiro, e ArcelorMittal, em Belo Horizonte.
“Não podemos querer uma cidade moderna, criativa, com esse dragão cuspindo fogo e fuligem nas nossas faces. A gente até admite que não vai tirar a Vale de uma hora pra outra. Mas os governos municipal e estadual e a população têm que ter em mente que elas [também Arcelor] não vão ficar aí pra sempre, muito menos aumentando o potencial de produção”, profetiza.
Eraylton Moreschi Junior, presidente da Juntos SOS Espírito Santo Ambiental, defende que os órgãos de governo precisam estabelecer Termos de Ajustamento de Conduta (
TACs) com as empresas de Tubarão e não os amorfos Termos de Compromisso Ambiental (
TCAs) atuais. E insiste na afirmação de que o Ministério Público Estadual (
MPES) precisa ser mais atuante, visão compartilhada pelo delegado da Polícia Federal Décio Ferreira Neto, coordenador do inquérito que apura as origens e os responsáveis pela poluição por pó preto na região metropolitana.
“Não temos visto o Ministério Público tomar alguma providência efetiva. No passado já fez, mas recentemente, desde a paralisação do porto este ano, não vemos nenhuma ação efetiva”, reclama o delegado.
O inventário das fontes poluidoras é outra ação que precisa urgentemente ser providenciada pelos órgãos públicos e MPES, para que as medidas de controle e atualização tecnológica sejam mais precisas, como apontam os ambientalistas.