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Idaf recebe EIA-Rima da Suzano para plantio de mais cinco mil hectares de eucaliptos em Conceição da Barra

O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado (Idaf) recebeu os Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) da Suzano Papel e Celulose para o licenciamento do plantio de mais cinco mil hectares de eucaliptos em Conceição da Barra, norte do Estado. Desta vez, o processo pertence ao Bloco IV do projeto de expansão da empresa, localizado nas fazendas São Joaquim da Água Preta e Dourada Una, de propriedade de Ângelo Coutinho. O contrato de arrendamento com o produtor é de 14 anos, podendo ser renovado após esse período.
 
A área total da Fazenda Dourada Una abrange ainda uma parte do município de Pedro Canário, que, segundo consta no Rima, deve ser incluída, futuramente, no processo de licenciamento no Idaf. Em Conceição da Barra, 80% da área rural já está dominada pelo eucalipto.

O bloco IV é apenas um dos projetos de expansão da Suzano Papel e Celulose no Estado submetidos ao Idaf, que juntos representarão o aumento das áreas de plantios em cerca de 11 mil hectares nos próximos anos no norte e extremo norte do Estado.
 
Diante da dramática crise hídrica que vive a região, é com tristeza que os pequenos agricultores recebem essa notícia. No norte, as monoculturas de eucalipto são, historicamente, a principal ferramenta através da qual o “projeto” nacional de esvaziamento do campo tem sido implementado.
 
É sabido que o Brasil e a maioria dos países do mundo ocidental passam, há décadas, por uma intensa urbanização. Os motores desse progresso descontrolado variam um pouco em cada país ou região, mas em geral se apoiam na industrialização, nas monoculturas agrícolas e na pecuária extensiva. Pois na região, os desertos verdes de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria S/A) e da Suzano são os soldados mais eficientes dessa guerra contra a sustentabilidade.
 
Nadando contra a correnteza da devastação socioambiental a serviço do agronegócio, está a agricultura familiar, com toda a sua diversidade alimentar, biológica, social e cultural. O contraste é tão grande e as condições de luta também. Enquanto as grandes fábricas de celulose – bem como os latifundiários dos comodities agrícolas – gozam de privilégios fiscais e políticos para avançar sobre a vida natural e humana, os pequenos agricultores ficam, quando muito, com migalhas.
 
Negligência e irresponsabilidade
 
Vide o governador Paulo Hartung (PMDB), que se nega, categoricamente, a receber o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e outros coletivos para audiências que tratem de apoio para amenização da crise hídrica. Sem falar, em nível nacional, da Reforma Agrária, bandeira maior do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
 
Valmir Noventa, camponês e coordenador estadual do MPA, do alto de uma vida inteira lidando com essas disparidades político-econômicas e sentindo na pele suas consequências, é categórico: “Somos contrários a qualquer monocultura e o eucalipto tem um agravante, por ser um grande consumidor de água”, afirma.
 
Para Valmir e outros trabalhadores da agricultura familiar, não há dúvidas de que qualquer avanço de qualquer monocultura no Estado, principalmente de eucalipto, representa uma ameaça à biodiversidade e aos lençóis freáticos. “É um absurdo, uma irresponsabilidade de qualquer órgão conceder licenças pra novos plantios”, indigna-se.
 
O camponês e militante enumera os impactos em sequência: primeiro as nascentes e os córregos; em seguida, a economia, a vulnerabilidade social e concentração de renda nos municípios do deserto verde; em terceiro, a biodiversidade, obviamente; em quarto, a economia rural, que sofre com os solos deteriorados e empobrecidos; e por último, um aspecto menos conhecido, que é de âmbito cultural, com a dificuldade de acesso das famílias às sedes das comunidades e a redução das mesmas, com fechamento de escolas e, em cascata, o abandono de outros equipamentos sociais, como igrejas, praças e campos de futebol.
 
É a monocultura, especialmente a de eucaliptos, servindo ao esvaziamento do campo, à redução da diversidade biológica e cultural, à concentração demográfica e econômica no caos das cidades. 

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