Uma das motivações do rompimento da barragem, conta Pablo, foi o aumento do ritmo de produção, devido à redução do valor do minério de ferro no mercado mundial e a intenção da empresa em compensar a queda de receita com um aumento de produção. Por isso a necessidade também de fortalecimento dos órgãos de fiscalização e de aprimoramento das regras para licenciamento ambiental. Pablo lembra que é preciso aproveitar esse momento de tramitação do Código de Mineração para mobilizar a sociedade e viabilizar uma renovação que o torne de fato sustentável.
Um ponto-chave, que pode ser alcançado com maior soberania, é a inversão da lógica colonial que ainda predomina no Brasil, em que há mais atividades de alta densidade energética e baixa densidade tecnológica que o contrário. “Poderíamos investir mais no processamento do minério”, sugere. Assim, o volume de mineração poderia ser menor, mas com muito mais geração de renda e empregos de qualidade.
“A cadeia da mineração polui muito e explora a mão de obra. São os trabalhos mais arriscados e menos valorizados. Somos nós que precisamos determinar o ritmo, a forma e a destinação da produção; e nas as corporações multinacionais”, propõe.
O MAB já faz esse debate sobre o modelo de mineração e de desenvolvimento com a sociedade há muito tempo. O que o crime da Samarco/Vale-BHP fez, destaca Pablo, foi chamar mais atenção, “jogando na cara” da sociedade a necessidade de aprofundar essa reflexão, de tomar decisões mais profundas.
Discussões sobre o assunto e outros temas relacionados ao crime continuarão sendo levantadas pelo MAB e outros coletivos parceiros. Um grande ato de protesto a um ano de impunidade começará no dia 31 de outubro, com uma Marcha que sairá de Regência, em Linhares, norte do Espírito Santo, e chegará em Bento Rodrigues-MG no dia dois de novembro. Em Mariana, entre os dias três e cinco, um grande Encontro do MAB, reunindo moradores das comunidades atingidas ao longo de todo o percurso da lama.
O objetivo da Marcha é levar a mensagem da organização, da esperança, da reconquista dos direitos, da união. O coordenador do MAB alerta que a empresa tem atuado na bacia toda de forma muito parecida, garantindo o direito de alguns e negando a outros e protelando decisões importantes. “A sensação é de que a divisão das comunidades é mesmo uma estratégia. E as famílias trouxeram isso de forma muito evidente durante o encontro que realizamos no início do mês, com os atingidos”, relata.
Mais do que nunca, convoca, é preciso unificar e construir um movimento forte, com pauta comum, contemplando as comunidades da Foz até Mariana. “Nosso recado para a Samarco e a sociedade é: os atingidos estão unidos para lutar por seus direitos”.