Uma demarcação de ciclofaixa ao longo de 300 metros da Avenida Maruípe, em Vitória, realizada na última sexta-feira (26) reacendeu o debate sobre a insegurança do ciclista no trecho. A ação foi um protesto do grupo Bicicletada Vitória para cobrar da prefeitura a instalação de infraestrutura cicloviária em um dos eixos mais importantes da cidade e de alta velocidade veicular.
O ciclista, ali, corre perigo, razão pela qual cicloativistas cobram a instalação de uma ciclovia e não de ciclofaixa na região.
“Se você pegar o retrospecto de manifestações e demandas dos ciclistas, a Maruípe sempre foi ponto de pauta”, diz o cicloativista Hudson Lupes. Segundo ele, a Prefeitura de Vitória sabe que há demanda recorrente por projetos cicloviários na região, mas não correspondeu. “O ciclista tem direito à via, mesmo não tendo ciclovia. O problema é que as pessoas não sabem disso, há uma deficiência na formação dos condutores sobre códigos do CTB [Código Brasileiro de Trânsito] em relação ao ciclista”, pondera ele.
Na terça-feira (30), uma equipe da Secretaria Municipal de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana (Setran) apagou a ciclofaixa, alegando risco para quem trafega no local. Nessa quinta (1), a Setran se reuniu com representantes de grupos cicloativistas da cidade.
Hudson diz que a Avenida Maruípe é utilizada geralmente por trabalhadores que residem em bairros de baixa renda da região, como São Cristóvão, Joana D’Arc, Santa Martha, Andorinhas, Bonfim, Itararé e Bairro da Penha. A presença de um campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) não encoraja os estudantes a diversificar o perfil dos ciclistas da área. São poucos os que se aventuram pela avenida para estudar no campus de Maruípe da Ufes.
Hudson, por exemplo, desistiu de trafegar na Maruípe sob duas rodas. Embora estude no campus de Goiabeiras, o aluno de Engenharia da Computação tem vivência ali por ter morado em Fradinhos. Mas sucumbiu à lei do mais forte que governa a área: foram tantas buzinadas, tantas ameaças de motoristas, tanto assédio de quem se acha o dono da rua, que ele renunciou. Pedalar com insegurança não rola.
Ele destaca, ainda, o perfil de alta velocidade veicular da via. A Avenida Maruípe cumpre a função de ser um dos elos entre o norte e o sul de Vitória, razão pela qual é um dos eixos mais importantes da cidade. Hudson lembra também que as obras de ampliação da Avenida Leitão da Silva incharam por tabela o trânsito da Maruípe. Os carros que fogem das complicações das obras pesaram ainda mais um trânsito já denso.
Apesar desse perfil hostil ao ciclista, a reunião com o novo secretário de Transportes, coronel Oberacy Emmerich Júnior, não foi empolgante na visão do cicloativista. Ele achou que a prefeitura apresentaria propostas, mas se dispôs apenas a ouvir sugestões. Oberacy evadiu-se com uma estratégia que usou anteriormente em outra ocasião: resguardou-se no fato de ser novo na pasta e, portanto, ainda se localiza na área.
Pareceu que a postura da prefeitura na reunião foi menos para resolver uma demanda de ciclistas do que para apaziguar ânimos em uma corrida eleitoral que está se revelando dura para o prefeito e candidato à reeleição Luciano Rezende (PPS). “Foi como se a questão da Maruípe tivesse surgido ontem. Não. É uma questão de pelo menos cinco anos”, critica Hudson.