Desde a histórica quarta-feira (31) que decretou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e em seguida deu posse ao agora presidente Michel Temer (PMDB), teve início uma onda de protestos país afora. Em Vitória, houve um protesto horas após Temer ser empossado, que acabou sendo reprimido pela Polícia Militar.
Nessa sexta-feira (2), os manifestantes voltaram às ruas da Capital, em maior número e mais organizados para enfrentar a repressão policial que já era esperada.
Os manifestantes ForaTemer se concentram no campus da Ufes em Goiabeiras e saíram em marcha pela Reta da Penha por volta das 18h30. Como tradicionalmente acontece nos protestos de rua em Vitória, o destino nos manifestantes era a praça de Pedágio da Terceira Ponte e a Assembleia Legislativa, locais vizinhos.
No início da caminhada, as forças policiais acompanhavam de perto o ato ainda sem recorrer à repressão. Porém, em razão dos antecedentes da última quarta-feira, o clima entre policiais e manifestantes era de tensão.
Não demorou para os nervos se acirrarem. Como a orientação da Secretaria de Segurança Pública à PM é de tolerância zero com os manifestantes que não são identificados como “pessoas de bem”, a repressão prevaleceu. Parece que a polícia estava esperando ansiosa que uma fagulha se dessipasse para “justificar” a repressão violenta, que costuma ser aleatória. Em outras palavras, sobra para todo mundo.
A reportagem de Século Diário, que acompanhou a manifestação, confirmou que a polícia usou violência desproporcional para reprimir algumas ações isoladas de um outro manifestante.
Durante quase quatro horas seguidas, o protesto se resumiu em ações de repressão da polícia contra manifestantes, a maioria jovens, que resistiam como podiam às bombas de gás lacrimogêneo e aos tiros de balas de borracha. O saldo desse confronto acabou na detenção de cinco estudantes, que foram encaminhados ao DPJ de Vitória.
A polícia especialista em repressão, o Batalhão de Missões Especiais (BME), parecia surpreendida com a quantidade de manifestantes. Os organizadores falam em 5 mil pessoas, a polícia reduz para 2 mil. A difícil chegar a um denominador comum, mas havia muita gente nas ruas de Vitória na noite dessa sexta pedindo a saída de Temer.
Fora Hartung
Durante a marcha, além de improvisarem vários refrões pedindo a saída de Temer, os manifestantes também fizeram críticas ao governador Paulo Hartung (PMDB). Eles se queixavam da ação truculenta da “polícia de Hartung”. Com gritos de “Hartung, pode esperar, a sua hora vai chegar!”, os manifestantes faziam alusão ao pedido de impeachment do governador, protocolado esta semana na Assembleia Legislativa por entidades sindicais.
Assembleia Legislativa
Como ocorreu na quarta-feira, a estratégia da polícia foi impedir que os manifestantes ocupassem as escadarias de acesso à Assembleia Legislativa. As forças policiais temiam que os manifestantes tentassem ocupar a chamada “Casa do Povo”.
Com uso da violência, a polícia acabou afastando os manifestantes das proximidades do Legislativo. Acuado, o protesto seguiu para as ruas da Praia do Canto. Por volta das 22 horas, os manifestantes estavam no Triângulo das Bermudas, região de bares e restaurantes da Capital.
O badalado point da noite capixaba deu lugar a bombas e balas de borracha disparadas pela polícia e muito corre-corre. A polícia seguia agindo com violência, tentando dispersar o protesto. Encurralados, os manifestantes tentavam buscar abrigo nos estabelecimentos comerciais. Foi nesse momento que os cinco estudantes teriam sido detidos.
Por volta de meia-noite, os manifestantes seguiram para a Rua da Lama, em Jardim da Penha, onde o ato foi aos poucos se dispersando.
Prisões
Nas redes sociais há informações ainda desencontrados sobre a situação dos cinco estudantes detidos. Não se sabe oficialmente se eles já foram soltos e nem ao certo os nomes dos detidos, tampouco os motivos da prisão.
Por volta das 14h deste sábado, o professor Fábio Malini, da Ufes, postou uma nota nas redes sociais sobre as prisões. Segundo Malini, duas estudantes, uma de Filosofia da Ufes e outra de Serviço Social da Emescam, acabaram de ter suas prisões mantidas pela Justiça. Motivo, as estudantes estariam portando vinagre e leite de magnésia nas bolsas. Duas soluções caseiras que reduzem a ardência provocada pelo gás lacrimogêneo.
Há informações de que advogados que apoiam a manifestação estariam tentando um habeas corpus para relaxar as prisões das duas estudantes, que foram encaminhados para a unidade prisional de Cariacica. O professor lembrou que protestar não é crime. “Não será produzindo chantagens policiais e jurídicas que se estancarão os movimentos de estarem nas ruas, que trazem, em sua forma e seu conteúdo a reivindicação por eleições #DiretasJá. Só não vê quem não quer”, finalizou Malini.
Nota da Sesp
Em nota, o secretário de Segurança André Garcia tentou justificar a ação violenta da polícia. “A PM reforça que acompanhou todo o movimento e somente iniciou as ações de controle de distúrbio civil quando a escadaria da Assembleia Legislativa começou a ser vandalizada. A Polícia Civil abriu um inquérito para identificar e autuar os participantes destes atos. A Sesp lamenta as cenas de destruição registradas nesta noite e destaca que apesar de vários PMs terem sido alvo de pedradas e outros objetivos, nenhum policial ficou ferido”.
O vídeo abaixo registra o momento em que os manifestantes chegam ao Triângulo