Uma temática delicada de se tratar e um tanto perturbadora: a pedofilia. É sobre isso que se trata Urutau, longa do carioca Bernardo Cancella que terá exibição inédita no Cine Metrópolis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória, nesta quinta-feira (15), às 19h. Em uma narrativa relativamente curta (1h10), o longa, porém, passa lento ao abordar em planos parados a rotina angustiante de um adolescente mantido em cárcere privado por seu abusador. O jovem é Fernando, que há sete anos está sujeito a abusos psicológicos e sexuais por parte de Josias, o homem já adulto que o sequestrou.
A história, se comparada a filmes de abordagem das temáticas de pedofilia e sequestro, pode até parecer 'batida', contudo o diretor usa uma direção não convencional para discutir esse tema tão problemático e urgente como a pedofilia. Imerso em cenas paradas, o longa se concentra nos dois atores, com Nicolas Sambraz interpretando o adolescente Fernando de forma elogiosa, destacando o drama psicológico na cabeça de um jovem que passa pelo drama.
O clima é de medo e angústia, com uma abordagem que tem gerado discussão a partir do momento que a narrativa do diretor se propõe a trabalhar também a relação afetiva do abusador para com a vítima e, da vítima para com o abusador – mesmo que os sentimentos sejam conflitantes para o adolescente. Aqui, a complexidade do comportamento humano e as relações de poder dão o tom de Urutau – sempre imerso no silêncio de Fernando, mostrado como reação ao medo em que vive.
Urutau– nome que remete a um pássaro caracterizado pela imobilidade e pela aversão aos centros urbanos, além de ter um canto que se assemelha a um lamento doloroso – só toma um rumo inesperado quando Josias inesperadamente sofre um grave acidente e Fernando não sabe como reagir diante da situação improvável de se ver finalmente livre.
Por onde passa a obra tem causado discussões não só pela temática, mas também pela escolha narrativa de Bernardo Cancella, que eleva o relacionamento entre os dois personagens para destacar a complexidade do comportamento humano em situações extremas como essas.
Produzida de forma completamente independente, a obra usa apenas um cenário, um porão bem fechado, e com foco nos dois atores. A sessão no Cine Metrópolis faz parte do projeto Cinemas em Rede, que interconecta diversos cinemas universitários pelo País através de uma rede acadêmica e destaca filmes que geralmente não entram no circuito tradicional de cinema. A entrada é livre para estudantes e R$ 10,00 (inteira) para o público em geral.
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Serviço
A exibição do filme Urutau, de Bernardo Cancella, acontece nesta quinta-feira (15), às 19h, no Cine Metrópolis – avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória. A entrada é livre para estudantes e R$ 10,00 (inteira) para o público em geral.