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Crise do transporte público de Vitória se reflete nos programas eleitorais de governo

No final do ano passado e ao início deste, o transporte público municipal foi um dos principais assuntos da cidade. Em outubro de 2015, o projeto Integra Vitória foi implantado sob o discurso modernizador da ideia de “integração”. Sucumbiu em menos de duas semanas, desmantelado por críticas e protestos dos usuários. Em março, moradores voltaram às ruas após prefeitura e concessionárias adotarem ações de redução de frota, que redundou em superlotação e viagens demoradas. 
 
Em suma: em ambos os casos, o que já eram ruim, ficou pior.
 
Essa crise operacional que desorganizou o sistema municipal de transporte ecoou nos programas de governo dos candidatos a Prefeitura de Vitória, mas não exatamente com boas propostas ou, pelo menos, claras. A integração entre os sistemas municipal e intermunicipal, a implantação de corredores exclusivos e a programação semafórica estão são as principais promessas.
 
Há a boa vontade aqui e ali, característica de períodos eleitorais. Veja-se o exemplo de Amaro Neto (SD). O deputado estadual começa com um chavão urbanístico: “A mobilidade urbana tem que ser vista como mobilidade humana, ou seja, privilegiando o deslocamento das pessoas”. Amaro promete a integração do sistema municipal ao intermunicipal e apoiar (?) a implantação de corredores preferenciais para o transporte coletivo. Só. Muito pouco para quem lidera as pesquisas.
 
Candidato à reeleição, o prefeito Luciano Rezende (PPS) segue caminho semelhante: “Atuaremos junto ao sistema de transporte coletivo metropolitano, buscando a integração de projetos e obras do sistema viário, bem como a integração tarifária já iniciada”. O problema é esse “integração tarifária já iniciada”: o prefeito se refere ao Integra Vitória? 
 
O candidato do PSOL, André Moreira, também segue igual caminho, propondo a reestruturação do transporte coletivo metropolitano e municipal para operação em complementaridade. “Integração do planejamento, da operação, das linhas e redes, do sistema tarifário, entre as instâncias metropolitana e municipais; otimização do sistema a partir da divisão das áreas de abrangência de cada competência, ampliando as possibilidades de atendimento”, registra o programa, que também propõe a segregação da circulação de veículos coletivos em corredores.
 
O deputado federal Lelo Coimbra (PMDB) não promete implantar, mas estudar a implantação de faixas preferenciais para ônibus em Vitória. E não cita a integração entre os sistemas metropolitano e municipal.
 
Mas, interessante, Lelo é o que apresenta essas propostas de maneira mais clara: “A melhoria da mobilidade urbana demanda a integração de ações de planejamento e operação com o governo estadual, no âmbito da cidade e/ou da Região Metropolitana da Grande Vitória”.  O que o peemedebista deixa claro em comparação a seus adversários é que Vitória deve ser pensada metropolitanamente, sobretudo em termos de mobilidade: a RMGV é um espaço homogêneo cuja expansão demanda ações coordenadas entre os poderes municipal e estadual. 
 
Ou seja: pouco adianta prometer integração com o Sistema Transcol, ou mesmo a implantação de faixas exclusivas para ônibus, se não houver um diálogo com o governo estadual. Esta é apenas uma parte do problema. A outra é dialogar com um governo que, até aqui, repetindo à exaustão um mantra de ajuste fiscal, abateu toda e qualquer iniciativa de remodelação do padrão de transporte coletivo metropolitano – BRT (vias exclusivas para ônibus na Grande Vitória) e Sistema Aquaviário. 
 
O governo estadual aventou a implantação de um BRS (Bus Rapid Service) na Grande Vitória. O sistema prevê faixas preferenciais para ônibus e integração dos sistemas municipal e estadual. Mas como integrar se a recente licitação do Transcol não previu integração com os ônibus de Vitória e Vila Velha, que têm sistemas próprios? Para tal, uma nova licitação teria de ser realizada. E como negociar com o fluxo de carros em grandes eixos cercados por ruas estreitas, como, exemplo, a Avenida Nossa Senhora da Penha?
 
Implantar corredores exclusivos e integrar sistemas de transporte não são projetos de tão fácil execução. 
 
A programação semafórica aparece com destaque em algumas propostas. Lelo a registra entre as ações locais que podem ser tomadas pelo poder municipal. Luciano promete uma “nova central integrada de comando e controle da cidade”. André propõe a elaboração de um “plano de melhorias viárias contendo projetos de aperfeiçoamento das sinalizações, intersecções, semaforização e malha de apoio possibilitando circulações periféricas aos eixos principais”. 
 
Os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas (nessa ordem) – Amaro, Luciano e Lelo – são pouco ousados para repensar a esgotada capacidade viária de Vitória, cidade com apenas 9% da população do Estado, mas concentrando 49,84% do Produto Interno bruto (PIB) da Grande Vitória e 29% do PIB do Estado, e que, portanto, sente cotidianamente em seus módicos 90 quilômetros quadrados de área os efeitos da condição de centro econômico do Espírito Santo. 
 
De resto, o candidato André Moreira apresenta ideias que mais desafiam a mesmice e indicam alternativas interessantes de mobilidade. “Reordenação dos fluxos de automóveis, criando restrições de usos nos horários e locais críticos”, isto é, restringir o uso do transporte individual, que é o principal elemento gerador de tráfego. “Incentivos à utilização compartilhada de veículos, como transporte fretado, carona solidária, uso coletivo de táxis, entre outros”, isto é, repensar o uso do transporte individual, fazê-lo coletivo.
 
Ele é o único que toca o dedo no subsídio ao transporte público: promete otimizá-lo e requalificá-lo, “aumentando a sua atratividade e competitividade com o modo individual”.
 
Praticamente não falamos do candidato do PT, Perly Cipriano, porque é o candidato com propostas de mobilidade mais parcimoniosas. Perly limita-se a propor a promoção de uma “melhor gestão pública dos transportes e da mobilidade urbana”, o que, no final das contas, não chega a ser má ideia.

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