No próximo sábado (24), integrando a exposição Fermento: do ar ao seu redor, será realizado um bate-papo com Joana Quiroga, autora dessa proposta artística que está em cartaz desde a última semana na Galeria Homero Massena, na Cidade Alta, Centro de Vitória. Na ocasião, a artista irá falar sobre seu processo de criação, sobre os temas suscitados pelo trabalho exposto e também fará uma vivência de cuidados com o fermento, com a distribuição do fermento que foi cultivado na própria Galeria. Aberta ao público, essa atividade acontecerá das 15h às 17h e também integra a programação da Primavera nos Museus.
Para a realização de Fermento: do ar ao seu redor, Joana Quiroga cultivou fermentos para pão em diferentes lugares da Grande Vitória enquanto uma narrativa para pensar sobre o mundo de coisas miúdas que nos cerca. Nesse trabalho, a criação destes fermentos, feitos apenas de água e trigo, é um convite para refletirmos sobre os afetos miúdos e corriqueiros, para os quais damos pouca atenção, mas que nos constituem. Fermento diz sobre a capacidade de tornar visível a singularidade daquilo que não podemos ver. Aqui, a fermentação é uma metáfora sobre a possibilidade de geração de algo extraordinário a partir de elementos simples.
Quem visita a exposição tem acesso a registros em fotos, áudio e vídeo, e outros documentos que dizem sobre essa imersão da artista e explicitam a originalidade e autenticidade de três colônias de fermento cujas matrizes foram capturadas em diferentes lugares da Grande Vitória: em Ataíde, Vila Velha, o fermento foi criado em uma vivência coletiva junto ao Banco Comunitário Verde Vida; na Lagoa do Juara, na Grande Jacaraípe, Serra, está sob os cuidados da Associação de Artesãos local; já o terceiro, foi feito na casa da própria artista no Centro de Vitória. Um quarto fermento irá “capturar” a presença do público frequentador, e outras sutilezas que envolvem o espaço expositivo. Amostras dessa nova colônia serão compartilhadas durante o bate-papo.
Sobre a decomposição e a vida
Com Fermento: do ar ao seu redor, Joana faz um convite para que miremos com mais atenção para aspectos habituais de nossa existência. Ao criar um fermento inteiramente original a partir das vidas microscópicas de lugares distintos, a artista nos provoca a olhar para as minúcias de nosso dia a dia e para as nossas memórias afetivas mais banais como algo novo e excepcional.
A fermentação natural, técnica antiga e universal de alimentação, requer paciência e observação atenta às variações sutis dos elementos do entorno, o que exige outro entendimento do espaço e do tempo a fim de transformar a decomposição num dos alimentos mais elementares e básicos da história do homem. Esse tipo de transformação da matéria acontece quando os fungos e bactérias que vivem no ar e na superfície das coisas encontram condições de umidade e calor favoráveis para se instalarem em um determinado material e começarem a se alimentar. Do processo de decomposição e transformação deste material realizado pela colônia de organismos invisíveis resulta algo que também nos alimenta.
Assim, quando comemos aquilo que foi fermentado estamos ingerindo os restos digestivos de fungos e bactérias. Dessa forma, a fermentação é um processo de apodrecimento que, manejado de modo especial e em diálogo obediente às singelas e sutis demandas da vida, transforma a decomposição em alimento. Essa materialidade apresentada por “Fermento: do ar ao seu redor” é um disparador para o público pensar temas filosóficos, artísticos e, de sua maneira própria, políticos.
Serviço
O bate-papo com Joana Quiroga sobre a mostra Fermento: do ar ao seu redor será realizado no próximo sábado (24), das 15h às 17h, na Galeria Homero Massena – rua Pedro Palácios, 99, Cidade Alta, Centro de Vitória. A entrada é franca.