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Criadores de abelhas sem ferrão instituem Associação de Meliponicultores

Fotos: AME-ES

Eis que a criança, traumatizada por uma picada de abelha quase fatal, se torna um criador de abelhas sem ferrão e presidente da Associação de Meliponicultores do Espírito Santo (AME-ES).

João Luiz Santos (foto à esquerda) conheceu os simpáticos insetos em 2008, por influência de um amigo a quem pediu sugestões sobre o que produzir dentro de sua propriedade rural na região do Caparaó. Adquirida há mais de vinte anos, a terra ficou longo período se recuperando da pastagem degradada que a ocupava. O retorno à produtividade veio abençoada pelas abelhas nativas da Mata Atlântica.

João conta que foi paixão à primeira vista, logo nas primeiras pesquisas que fez. “São bichos fantásticos. Os únicos que fabricam naturalmente o seu alimento. Uma organização social incrível e de importância imensa para todo o equilibro ambiental. Sem elas não há vida”, discorre, agradecido.    

Daí, foi conhecendo outros criadores, a turma foi se unindo, confraternizando, trocando … até que decidiu se formalizar em uma associação, criada em 20 de agosto passado, em assembleia realizada em Vitória.

O objetivo é conservacionista, fazer multiplicar a população de abelhas sem ferrão no Espírito Santo. A produção de mel acontece também, mas é secundária, ajuda a subsidiar o trabalho de criação dos ninhos e colônias. “Prioridade não é produção, senão seria cooperativa. É mais preservação, mesmo. É uma terapia, um lazer”, explica João.

O potencial de mercado, no entanto, reconhece o presidente, é enorme. “Quem começou não está dando conta de abastecer o mercado”, relata. As jataís são as mais conhecidas produtoras de mel sem ferrão. O valor do litro fica em torno de R$150,00. As meliponias também produzem e o litro está em torno de R$ 100,00

Há também uma demanda crescente por ninhos, muita gente interessada em comprar as colônias pra ter em suas casas e sítios e até em apartamentos. “Demanda urbana grande”, avalia.

Rainhas da polinização na Mata Atlântica

Além do aspecto terapêutico de conviver com abelhas e da possibilidade de saborear pequenas quantidades de um mel suave e saboroso, com muitas propriedades medicinais, a criação de abelhas sem ferrão também tem um apelo ambiental muito importante.

Quem as cria em quintais e sítios, percebe claramente o aumento de produtividade no pomar. “É incrivelmente maior a produção das frutas”, atesta João. No seu caso, laranjeiras e abacateiros têm retribuído abundantemente a presença das abelhinhas.

Mas é na floresta que as bênçãos das meliponias, jataís e uruçús ganha uma dimensão estratégica de conservação da biodiversidade. Por serem nativas, seu poder de polinização é imensamente maior que o das abelhas exóticas, com ferrão, usados pelos apicultores na vasta produção de mel no Espírito Santo. Há quem diga até que a polinização feita pelas exóticas é muito pequena, praticamente insignificante, e que elas espantam as nativas, daí a importância de proteger e investir na multiplicação das espécies locais.

Dentre os vários gêneros e espécies criados por João e outros meliponicultores da AME-ES, a Meliponia capixaba (uruçú capixaba ou uruçú negra) é um xodó quase unânime, por ser uma espécie endêmica do Estado (só existe aqui e em nenhum outro lugar do mundo) e ameaçada de extinção.

Sua distribuição geográfica hoje é muito restrita. Só ocorre em altitudes acima de 700 metros, tendo sido vista em Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante, Afonso Claudio, Conceição do Castelo e Domingos Martins. É muito provável que ela ocorra também no Caparaó, observações da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que acompanha o trabalho dos associados da AME-ES.

Cursos e palestras gratuitos

Uma ideia, inclusive, surgida dessa parceria, é a de colocação de caixas de meliponias dentro de parques naturais, porque assim os meleiros terão menos possibilidades de predar as colônias (o meleiro, que entra na mata atrás de mel, geralmente quebra a árvore e o ninho pra fazer a coleta). “Tendência é enxamear na natureza”, brinca João Luiz.

Para reproduzir um ninho, João explica que geralmente usa duas colônias para fazer uma. Ou, às vezes, de apenas uma faz a outra. Por isso a coleta de mel é muito pequena, em média 20%, pois é preciso deixar bastante alimento para que elas fiquem fortes e suportem a divisão da colônia na reprodução do ninho.

Esse trabalho é o coração que une os associados da AME-ES. “O objetivo é que a atividade cresça sempre pautada na proteção da natureza”, fundamenta o presidente. Com apenas um mês e meio de vida formal, a Associação já realizou palestras e planeja a realização de um minicurso de formação básica, gratuito e aberto a todos os associados, no dia 15 de outubro, e, em novembro, mais uma palestra.

Mais informações no blog da entidade.

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