O funcionamento do Complexo de Barragens de Germano continuará suspenso até que a Samarco/Vale-BHP realize licenciamento corretivo de todas as atividades. A mineradora também terá que obter licenças ambientais para as intervenções emergenciais, que vêm sendo executadas sem licenças. Para isso, precisa apresentar um novo estudo, que será apreciado pela Semad e cotado pelo Conselho Estadual de Política Ambiental.
A lama continua vazando da Barragem de Fundão e, para remediar essa situação, a solução apontada pela empresa foi a construção do dique S4, próximo ao distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, a primeira localidade a ser atingida após o rompimento da barragem no dia cinco de novembro do ano passado, e que ficou completamente destruído.
A medida, porém, é repudiada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), pois promoveria o alagamento do distrito, inclusive da Capela de São Bento, apagando assim a memória do lugar e também a principal cena do crime. A Samarco tem condições técnicas, como defende a entidade, de construir outras formas para conter a lama, como diques acima de Bento Rodrigues.
No Espírito Santo, a lama e seus impactos em cascata permanecem a olhos vistos. Apesar de estudos mais recentes do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) mostrarem que os índices de contaminação foram reduzidos em relação ao último relatório (feito com amostradas recolhidas entre novembro de 2015 e maio de 2016), que apontava água imprópria para todos os tipos de uso, não significa, de forma alguma, que a contaminação foi superada.
Os rejeitos assentados no leito do rio podem ressuspender a qualquer momento, a partir de uma enchente, por exemplo, da mesma forma como vem acontecendo continuamente no mar, onde a lama sobe ou desce mais da superfície ao sabor dos ventos e da movimentação da maré. Os registros aéreos feitos semanalmente pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Natureza (ICMBio), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e outros órgãos oficiais mostram essa movimentação.
Outros problemas decorrentes da lama têm ocorrido, como o surgimento de blooms de algas e também de coloides, como os flagrados nesta sexta-feira (14) na região de Barra Seca, em Linhares.
Pressão local
Enquanto isso, reina o caos social completo nas comunidades da Foz do Rio Doce. Ao sul, onde a empresa tem realizado a entrega de auxílios subsistência e a Justiça concedido algumas indenizações, essa injeção de dinheiro tem provocado muitos conflitos, pois, os cadastramentos dos atingidos têm sido refeitos seguidas vezes, gerando grande transtornos para os atingidos e disputas entre as pessoas, entre os diversos setores dentro das comunidades e entre as diferentes comunidades. O MAB denuncia que essa é uma estratégia utilizadas pelas empresas para promover a desarticulação das comunidades, enfraquecendo a luta por seus direitos.
As organizações da sociedade civil locais têm constatado aumentos significativos da violência e do uso de drogas.
Ao norte da Foz, a situação talvez seja ainda mais grave, pois as localidades não foram reconhecidas como atingidas. As pessoas estão há quase um ano sem poder trabalhar, pois a pesca, o turismo e todas as atividades ligadas a esses dois setores estão paralisadas, devido à contaminação. E mesmo assim, não recebem sequer o parco e conflituoso auxílio subsistência, muito menos indenizações.
Uma perícia solicitada pelo Ministério Público Federal de Linhares pode ser uma oportunidade de a empresa ser obrigada a reconhecer os impactos do seu crime sobre as comunidades ao norte da Foz. Mas o formato da perícia a ser contrata ainda está sendo formulado conjuntamente pelo Ministério Público Federal (MPF) e a empresa, e será apresentado ao juiz federal, provavelmente, em novembro.