“Muito esquisito, até demais. A gente não é especialista, mas acho muito estranho”, observa a pescadora Adriellen Almeida Nascimento, de Maria Ortiz, em Colatina. “Como que está contaminado na Foz e no Rio não?”, indaga Milton Jorge, presidente da Colônia de Pesca de Linhares (Colônia Z-06 Caboclo Bernardo).
Em Linhares, os pescadores têm presenciado o fenômeno durante todos esses meses e, esta semana, uma denúncia vinda de Colatina traz a mesma aberração. “Eu nunca vi aquele tipo de coisa. Meu esposo mora aqui há dezesseis anos e eu há seis. Nem nós nem minha sogra nunca vimos. Depois disso, a gente não entrou mais na água”, relata, assustada, a pescadora Adriellen.
Já Milton Jorge afirma que casos como esse estão acontecendo cada vez com maior frequência. Há oito meses, espécies com pele mais fina, como robalos, tucunarés e bagres amarelos, praticamente foram exterminados. A tainha também diminuiu muito e as que ainda aparecem estão cheias de machucados e deformações, o mesmo tem ocorrido com tilápia (espécie encontrada por Adriellen em Colatina) e a Curmatã. Situação um pouco menos dramática é a do Cascudo, Manjubinha e Carapeba.
Fim da pesca
“Eles exterminaram a cultura do pescador”, denuncia Milton. O presidente da Colônia de Pesca de Linhares também desaprova a forma como foram feitos os cadastros pela empresa, que acabaram contemplando muita gente que não é pescador. “A empresa foi cadastrando todo mundo que se dizia pescador, sem pedir comprovação. E um monte de pescador de verdade, registrado aqui, ficou de fora”, reclama.
Para o recadastramento que a Samarco/Vale-BHP anunciou fazer, está sendo exigida entrega de notas fiscais de todos os materiais de trabalho, coisa que a maioria dos pescadores não possui. “A Samarco exterminou toda a pesca em Linhares e no mar do Espírito Santo, não foi punida, e agora está querendo que o pescador seja culpado”, inflama-se.
Milton tem clamado por explicações e ajuda para seus companheiros, no rio e no mar. “Nossa preocupação é que o pessoal de Barra Seca, a Samarco não reconheceu”, diz.
Uma sugestão que já fez à empresa e ainda não foi aceita é de repovoamento das lagoas, junto com o município. Linhares tem 69 lagoas e estão todas “cercadas” desde novembro, mês do crime do rompimento da barragem, como forma de impedir a entrada da lama a partir do Rio Doce.
O problema é que a medida foi tomada em novembro, no auge do período reprodutivo dos peixes – que vai até 28 de fevereiro –, quando eles entram para as lagoas para reproduzir. Impedidos de seguir seu ciclo natural, acabaram condenando as lagoas a um despovoamento cruel.
Feito o repovoamento, o pescador teria como “ocupar a cabeça” com a pesca novamente dentro de um ano, aproximadamente. Outra reivindicação é que a Samarco/Vale-BHP reconheça todos os pescadores do município, inclusive os que pescam nas lagoas.
Por ora, os que foram cadastrados estão recebendo um auxílio de R$ 800 a 1.500, dependendo do número de dependentes.