O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) somente foi se somar às famílias posteriormente, ajudando a dirigir o processo. A decisão por realizar a ocupação na madrugada dessa quinta-feira (27) acabou, mesmo que não intencionalmente, por marcar com uma nova luta o aniversário de 31 anos do MST no Estado.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já foi informado da nova ocupação e a guarda particular da Disa já esteve no local para averiguar as condições pacíficas do acampamento. São mais de 70 famílias, cerca de três mil pessoas, que continuam a chegar, vindas majoritariamente de Braço do Rio, em Conceição da Barra, mas também de Pedro Canário e São Mateus.
O perfil dos acampados reflete de certa forma o perfil do contingente de trabalhadores sem terra no Brasil e no Espírito Santo, onde a demanda por assentamentos é estimada em mais de cinco mil famílias. São pessoas que possuem menos de um módulo de terra (área que varia de acordo com cada região) ou terra nenhuma; desempregados e empregados que possuem o anseio da terra como forma de construir sua vida, estejam ou não já se dedicando à luta pela Reforma Agrária; e vinculados ou não ao MST.
No Espírito Santo, há assentamentos de norte a sul, de leste a oeste, mas a maioria está localizada no norte e noroeste, onde há maior concentração de terras e de monoculturas, como pecuária, cana-de-açúcar e eucalipto, esta última em franca expansão. “Diversas áreas em Conceição da Barra, como em outros municípios, já comprovam a inviabilidade do agronegócio”, afirma o manifesto do MST sobre a ocupação. A carta lembra ainda que “assentar famílias nessas áreas é criar condições de desenvolvimento socioeconômico, através do direito constitucional de acesso à terra, a trabalho e moradia, e a produzir alimento para sociedade”.
Adelso Rocha Lima, da coordenação estadual do MST, destaca que, nesses 31 anos foram diversas as conquistas de terra, educação, produção de alimento saudável para a sociedade e vida digna, com mais de três mil famílias assentadas a partir da luta do movimento. A terra, porém, continua concentrada, sem cumprir sua função social, e muitas famílias sem terra se articulam e ocupam terra. “Repartir a terra é repartir e distribuir o pão”, resume, poeticamente, a liderança rural.
A ocupação também reforça as bandeiras dos trabalhadores do campo da Jornada Campo Cidade, como a anistia às dívidas dos pequenos agricultores, assentamento imediato de 750 famílias no Estado, programa do governo estadual para enfrentar a crise hídrica e contra a Proposta de Emenda Constiticional (PEC) 241, que congela investimentos na áreas de educação e saúde nos próximos 20 anos.