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Quilombola já está há três dias preso na delegacia de São Mateus

Preso há três dias, Evaldo Jerônimo Florentino, 23 anos, continua na delegacia de São Mateus, norte do Estado, onde provavelmente passará todo o fim de semana. Injustamente, afirmam as lideranças quilombolas e defensores dos direitos humanos no Estado.

Filho de Berto Florentino, contraguia do Ticumbi de Itaúnas, uma das mais importantes manifestações folclóricas do Espírito Santo, Evaldo é considerado mais uma vítima das injustiças cometidas contra as comunidades quilombolas rurais de Conceição da Barra e São Mateus, em atendimento aos interesses econômicos das empresas Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano.

A perseguição do Estado contra a comunidade afrodescendente residente nas periferias das cidades já é bastante conhecida, devido às denúncias nas redes sociais, por vezes nos jornais, e principalmente pela vivência no dia a dia, quando se ouve ou mesmo se testemunha esses atos de abuso e preconceito. 

“Os quilombolas estão mais vulneráveis por dois motivos”, explica Jacenildo Reis, advogado do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos do Centro de Defesa dos Direitos Humanos. (PPDDH-CDDH). O primeiro é a distância dos grandes centros urbanos. E o segundo, o interesse econômico de duas grandes empresas de celulose na região, mas principalmente da Aracruz Celulose (Fibria), que tem o controle político de grande parte das autoridades e até do Estado, como instituição. “Porque se olharmos o mapa de doações eleitorais, podemos enxergar isso claramente”, denuncia o advogado.

Jacenildo Reis conta que isso já acontece há muito tempo. Já houve casos, há alguns anos, de quilombolas serem detidos e, antes de irem para a delegacia, passarem primeiro no escritório da Aracruz Celulose. “Uma vergonha, um absurdo”. Diante da repercussão negativa, a empresa então passou a adotar uma postura um pouco diferente, de fazer com que as lideranças e seus familiares sejam levados diretamente para as delegacias. “Mas ela continua tendo controle sobre determinações de prisões”, afirma Reis.  

Evaldo foi preso pela Polícia Civil nessa quarta-feira (26), em uma estrada rural de Conceição da Barra (norte do Estado), enquanto guiava seu carro de volta para casa na companhia de sua mãe. A acusação: assassinato de um cabeleireiro na localidade de Lagoa Santa, em Pedro Canário.

Humilhar para enfraquecer a luta

A criminalização das lideranças é a estratégia mais utilizada nos últimos anos para enfraquecer a luta quilombola pela retomada de seu território tradicional e consequente recuperação da saúde da terra, hoje profundamente degradada, pobre e seca, após décadas da monocultura de eucaliptos.

“Ela direciona a Polícia a imputar fatos delituosos a alguma liderança ou defensor dos direitos humanos e os leva presos, sob suspeita de algum crime. Até que respondam ao processo e sejam soltos, ficam aniquilados. Muitas vezes, após passar por esse trauma de prisão, pela vergonha de serem algemados dentro da sua comunidade e levados em camburões, deixam de fazer militância, atingindo-se então o objetivo de enfraquecer a luta quilombola”, explica o advogado.

Este ano, já se chegou a uma situação de quatro lideranças estarem presas injustamente. E as comunidades precisaram protestar firmemente, com fechamento da BR 101 por mais de oito horas, e recorrer ao Tribunal de Justiça, pois a atuação dos magistrados da região não aconteceu, como apontam as comunidades.

No caso do jovem Evaldo, o objetivo é minar a força de seu pai, Berto Florentino, que além de liderança política da luta quilombola, é também liderança cultural, pois é o mais antigo membro no Ticumbi de Itaúnas, ajudando a guardar, há 45 anos, um dos maiores símbolos da identidade capixaba, e uma tradição em sua família há mais de 100 anos. “A representatividade dele [Berto] é muito grande. Atingir a família do Berto é atingir o núcleo cultural dos quilombolas de São Domingos”, esclarece o advogado do PPDDH. 

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