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Expectativa mais otimista sobre próximos quatro anos aponta para mais diálogo com a sociedade civil

“Normalmente a sociedade tem expectativa de que alguma coisa vai ser construída”, responde, evasiva e também realisticamente, Mario Camillo de Oliveira Neto, presidente da Associação Capixaba de Proteção do Meio Ambiente (Acapema), ONG ambiental mais antiga do Espírito Santo, fundada em 1979.

De fato, é o otimismo natural do ser humano e, especialmente das pessoas que militam nos movimentos sociais, que pode injetar ânimo para vislumbrar os próximos quatro anos de gestões municipais na Grande Vitória. Dos quatro municípios pesquisados pela reportagem, em três houve reeleição – Vitória, Serra e Cariacica – e apenas em Vila Velha um novo gestor assumirá a partir de 2017. E é justamente entre os ambientalistas canelas-verde que ouvimos uma expectativa mais otimista.

Rio Jucu

“O Max [Max Filho – PSDB] promete uma melhora. Vai abrir mais portas de diálogo com a sociedade. E mostrou interesse político em fortalecer os comitês de bacias”, avalia Eduardo Pignaton, secretário da Associação Barrense de Canoagem (ABC) e ex-conselheiro do Comitê da Bacia do Rio Jucu, do Conselho Regional de Meio Ambiente na Região Metropolitana (Conrema V) e do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema).  

Dunga, como é conhecido, conta que o prefeito eleito foi o único a visitar o Rio Jucu durante a campanha e que seu histórico, bem como de seu pai Max Mauro enquanto governador, lhe adicionam esse voto de confiança quanto ao que há por vir.

O ambientalista também destaca a expectativa de uma maior aproximação com as demais prefeituras que compõem as bacias dos rios Jucu e Santa Maria, que abastecem 1,2 milhão e 700 mil pessoas, respectivamente. “Nós esperamos que ele tome atitudes para ajudar a incluir esses municípios na região metropolitana”, afirma.

Uma obra prioritária já pleiteada pelo movimento ambientalista na cidade é a construção de um píer na foz do Rio Jucu, no bairro Barra do Jucu, para que a boca do rio se mantenha sempre aberta, favorecendo a oxigenação e limpeza do manguezal. “Já desistimos de esperar pela retirada do esgoto do rio”, alega Dunga, citando os vários programas de saneamento já implantados e extintos nas últimas décadas, e que em nada melhoraram a situação, já que a geração de esgoto aumenta e a vasão do rio só diminui, em função dos desmatamentos e assoreamento.

Unidades de Conservação e Educação Ambiental

Pautas específicas também já obtiveram posição favorável para o próximo mandato municipal serrano, a partir da cobrança feita pela Associação dos Amigos do Mestre Álvaro, um dos poucos grupos ambientalistas em atuação no município.

O prefeito reeleito Audifax Barcelos (Rede Sustentabilidade) assinou, ainda antes dos resultados do segundo turno, uma carta de compromisso em que se destacam a melhoria dos acessos e da comunicação visual das unidades de conservação, a implantação dos programas do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Mestre Álvaro, bem como a criação de uma unidade de conservação de proteção integral na região.

Os ambientalistas também receberam resposta positiva com relação à solicitação de criação de uma seção de proteção ambiental na Guarda Municipal e de fortalecimento das ações de educação ambiental, em parceria com as comunidades.

Diversificação econômica com proteção ambiental

A consolidação das Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs), definidas no Plano Diretor Municipal (PDM) de Cariacica, como equipamentos comunitários, de melhoria da qualidade de vida da população, é uma das pautas prioritárias discutidas dentro da Federação das Associações de Moradores de Cariacica (Famoc).

Dauri Correia da Silva, secretário de Relações Institucionais da Famoc e vice -presidente do Conselho Estadual das Cidades do Espírito Santo, cita a implantação de uma ZPA no bairro de São Conrado, através de recursos de multa. “Pra nós é dessa forma que o município deveria cuidar de toda as ZPAs”.

São 11 no total, que, somadas aos 23% do território municipal protegidos legalmente por unidades de conservação, poderiam dar a Cariacica uma posição de destaque no quesito ambiental da região metropolitana.

“É um outro olhar, que agregar valor, inclusive em setores produtivos da cidade, como o turismo. Incentivar pequenos arranjos produtivos locais (APLs), que vão dar conta de organização e fomentar a economia da cidade”, sugere Dauri.

Dauri confessa, no entanto, quão difícil é sustentar o otimismo quando se observa retrocessos importantes na temática ambiental do município, entre eles, a redução do status da Secretaria de Meio Ambiente, que hoje está subordinada à Secretaria da Cidade e do Meio Ambiente, e a doação de um terreno que viabilizou a construção de um hospital em cima de uma das nascentes do Córrego Campo Grande. No município., o prefeito Geraldo Luzia, o Juninho (PPS), foi reeleito.

Gestão metropolitana

Outro prefeito reeleito que deixou muito a desejar na gestão ambiental, Luciano Rezende (PPS), em Vitória, é citado pela Federação das Associações de Moradores e dos Movimentos Sociais do Espírito Santo (Famopes). “Não houve empenho, não existe controle”, reclama Marcos dos Santos, coordenador geral da Federação, com relação à redução da poluição atmosférica na Capital, problema antigo, que afeta toda a região metropolitana. Marcos também destaca o problema do lixo e do saneamento básico.

Numa visão metropolitana da temática, enfatiza, assim como no caso das bacias hidrográficas, destacada em Vila Velha, aponta a necessidade de uma gestão metropolitana para as questões ambientais mais urgentes. “O pacto metropolitano precisa acontecer. É urgente. É lá que as coisas irão se resolver. As cidades juntas, cuidando uma da outra, sendo menos competitivas e mais colaborativas”, opina. E exige mais participação social. “Nós dos movimentos sociais temos representatividade nos conselhos, mas não somos ouvidos. Apresentamos propostas, discutimos, mas não somos ouvidos”, reclama.

A poluição do ar, o saneamento básico e a necessidade de uma gestão metropolitana ecoam nas palavras do presidente da Acapema. “É preciso implantar uma nova realidade nesses aspectos, uma vez que existe um impacto muito grande na saúde, em função de poluição atmosférica e do não tratamento de resíduos lançados nos rios e no mar”, reflete.

Mantendo o necessário, apesar de difícil, otimismo, Mario Camillo verbaliza “a expectativa muito grande de que os prefeitos tratem essa questão com mais atenção que cumpram e façam cumprir a legislação ambiental”. 

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