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Da prata ao chumbo e arsênio: metais pesados já vazavam antes do rompimento da barragem em Mariana (MG)

Elevados índices de prata foram encontrados no Rio Doce, próximo à Barragem de Fundão, em Mariana (MG), antes do seu rompimento, no dia cinco de novembro de 2015, por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Sendo a prata um subproduto do refino de zinco, chumbo e cobre, tudo leva a crer que já havia vazamento de rejeitos de mineração antes da eclosão do maior crime socioambiental da história do País, que contaminou o rio até sua foz, em Regência, Linhares (norte do Espírito Santo).

Um maior número de aberrações cromossômicas e do índice de mutagenicidade (alterações do DNA que podem levar a câncer) foram constatadas, em ensaios laboratoriais, relacionadas ao contato com os metais pesados presentes na água contaminada pela lama de rejeitos, especialmente arsênio, chumbo e cádmio.

Os órgãos de controle ambiental e de saúde, o Ministério Público e a Justiça não estão agindo com a contundência necessária à gravidade dos riscos à saúde ambiental e humana.

É preciso atualizar as pesquisas sobre potabilidade da água do Rio Doce que chega às torneiras, mesmo após tratamento, e pesquisar a qualidade sanitária dos peixes e crustáceos pescados também na Capital do Estado, Vitória.

É preciso ainda aumentar a área de proibição de pesca, em todo o rio e numa área muito maior que a atual, ao redor da foz.

Essas e outras questões foram apresentadas pela médica-veterinária Surama Freitas Zanini nesta segunda-feira (21,) no Plenário Rui Barbosa da Assembleia Legislativa, durante reunião da Comissão de Meio Ambiente.

PhD em Segurança Alimentar, Surama é professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) nos cursos de Graduação em Medicina-veterinária e Pós-graduação em Biotecnologia e em Ciências Veterinárias.

Eu seu trabalho sobre o crime da Samarco/Vale-BHP, a cientista realizou uma pesquisa bibliográfica sobre publicações oriundas dos órgãos governamentais, entre elas, as pesquisas do professor Adalto Biacnchini, da Universidade Federal do Rio Grande/RS (FURG), doutor em Oceanologia, que respaldaram muitas das notas técnicas e recomendações das entidades ambientais públicas. E contrastou estas com publicações em revistas científicas internacionais, especialmente as produzidas pela USP.

Em ambas as fontes, foram encontrados basicamente os mesmos metais pesados e indícios de problemas de saúde que eles já podem estar causando em peixes e crustáceos e em seres humanos.

A compilação feita por Surama também levam a um entendimento claro de que a qualidade da água consumida pela população, mesmo após tratamento, pode conter elevados índices de metais prejudiciais à saúde, apesar de, “em teoria”, questiona Surama, essa água estar sendo considerada potável segundos padrões do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). “ A gente está muito pouco informado”, alerta a PhD.

Isso porque os índices de arsênio, por exemplo, estão até 140 vezes maiores que o permitido em peixes e 88 vezes maior em crustáceos. “Quanto mais alto o nível da cadeia trófica, maior a concentração dos metais pesados e mais graves os efeitos dessa toxidade, por causa da bioacumulação”, explica Surama.

Alerta semelhante advém dos índices de outros metais, como chumbo, que é neurotóxico. Enfim, é preciso ser mais cuidadoso. Os órgãos governamentais, apesar da quantidade e qualidade dos dados científicos disponíveis, não estão tomando as medidas necessárias à proteção da saúde ambiental e das pessoas.

Surama também levantou a necessidade de mudanças na dimensão econômica. A diversificação econômica é fundamental, visto a fragilidade com que localidades e até municípios inteiros ficam dependentes do funcionamento de uma empresa de mineração, a ponto dos governantes fazerem pressão para retorno das atividades da Samarco, mesmo diante da impunidade e da falta de efetividade na reparação dos danos.

Vide a própria Assembleia Legislativa, onde a pesquisadora apresentou seus dados, que tem um grupo de parlamentares defendendo esse retorno do funcionamento da Samarco em Anchieta (sul do Estado). Outra questão importante é a taxa cobrada sobre a atividade de mineração, que no Brasil é a menor do mundo, apenas 2%, enquanto na Venezuela é de 3% e na África do Sul pode chegar a 7%. 

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