As coletas foram feitas por pescadores profissionais da região no dia nove de julho e enviadas para o laboratório da Universidade Católica de Santos, em São Paulo. Uma segunda coleta seria feita trinta dias depois, porém, na data marcada, a lama tóxica da Samarco/Vale-BHP já havia matado todos os animais na região, impossibilitando a continuidade do trabalho.
Os dados da primeira amostra, porém, foram suficientes para alarmar os pesquisadores, estudantes de Farmácia da Unisantos. Foram medidos os níveis dos seguintes metais: alumínio, cobre, chumbo, cádmio e zinco e ferro. Desses, cádmio e chumbo não são essenciais, mas mesmo os essenciais estão em níveis tão altos que sua ingestão torna-se tóxica e prejudicial à saúde.
“Os metais pesados são bioacumulativos e não possuem característica biodegradável nos organismos vivos, estando presentes em toda a cadeia alimentar, elevando a sua toxidade”, alerta a dissertação de graduação em que os dados foram utilizados.
Aprovada pela banca da universidade na semana passada, a dissertação concluiu pela proibição imediata da pesca na região de Barra Seca e arredores. “Essas pessoas deveriam estar sendo assistidas, não só com uma bolsa, um auxílio financeiro, mas também com capacitação para se reinserirem no mercado de trabalho. São pessoas simples, que não têm outra profissão”, orienta Ludimila Mathias, uma das autoras do trabalho.
Ludimila é capixaba, de Vitória, e mora em Santos onde está se formando em Farmácia. Quando soube do crime, no dia cinco de novembro de 2015, decidiu transferir o local dos experimentos da sua dissertação. “Nós, população, pessoas comuns, temos que fazer o que podemos. Não dá pra ficar parado”, argumenta. “É o meu Estado, o meu País, não dá pra aceitar isso”.
Antes do anúncio desses resultados à comunidade, a Associação de Moradores, Pescadores, Assemelhados e Comerciantes de Barra Seca (Ampac) decidiu, por precaução, cancelar a 8ª Caminhada Ecológica que seria realizada no próximo domingo (4). “A água está muito escura e os peixes estão morrendo. Não sabemos o motivo dessa mortandade, o que há de contaminação na água e os riscos à saúde”, argumenta o vice-presidente da Ampac, Flavio Messias Soares, citando uma análise feita na vizinha Pontal do Ipiranga, cujos resultados chegaram até as comunidades, atestando que não foi falta de oxigênio que matou os peixes.