Com décadas de acompanhamento dos gigantescos e variados impactos socioambientais provocados por grandes empreendimentos industriais sobre sua comunidade, Herval Nogueira, ativista da Rede Alerta Contra o Deserto Verde, tem muitas dúvidas.
Sobrevivendo como pode depois da instalação da Aracruz Celulose (Fibria) e seu porto, da Jurong, Imetame … a ameaça da vez é a expansão do Portocel. A consulta pública do Termo de Referência para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Projeto Portocel II, em Barra do Riacho, será nesta quinta-feira (8).
Até o momento, do que se sabe dentro da comunidade, os destaques são o píer e o centro de lazer na praia. “Nós esperamos melhorar”, palpita Edinaldo Marques, presidente da Associação de Pescadores Familiares de Barra do Riacho e Barra do Sahy.
“Uma dúvida que a gente, que é leigo, tem: se fizer o píer e não tiver vazão de água dos rios, ele vai ser suficiente?”, questiona Herval Nogueira, alegando que, antes de chegar à foz, o Rio Riacho sofre com dezenas de intervenções que diminuem muito sua vazão. São 35 córregos e três rios que servem à Aracruz Celulose (Fibria), através de barragens e desvios, conta o ativista.
E, pra completar, a quatro quilômetros da foz, comportas controladas pela Aracruz Celulose (Fibria) pioram a vazão do Riacho, que repetidas vezes não consegue alcançar o mar. Será essa a principal causa das mortandades quase quinzenais de peixes na região?
Muitas dúvidas, muito medo. A história da região é motivo mais do que suficiente para a desconfiança. Dois dos mais emblemáticos casos são o do Canal Caboclo Bernardo e do rio Jumuma. O primeiro entrou em operação em 2000, com seus 50 km que desviam água do Rio Doce para o Rio Riacho, a fim de abastecer a maior planta produtora de celulose do mundo. Herval lembra que, na época do licenciamento, a comunidade foi usada como justificativa, mas o que acontece é que o volume desviado visa prioritariamente garantir o funcionamento da fábrica.
Já o Jumuma é “o único rio, que eu tenho conhecimento, que dá marcha-ré”, relata o ambientalista. A “mágica” é possível devido a uma escavação feita para que a gravidade, associada a bombas de sucção, façam o rio voltar ao invés de seguir para o mar, caindo num sistema que canaliza água para a Aracruz Celulose.
“E como se fosse um corpo que não aguenta mais peso”, metáfora Herval, para explicar a extrapolação do ponto de resiliência da Barra do Riacho frente a novos empreendimentos industriais. “É preciso ter muito juízo, que o Estado não tem, porque vem legitimar esse tipo de investimento. Não tem nenhuma preocupação com a região, que está saturada, reclama. “Tem um monte de coisa obscura que precisa estar com transparência pra comunidade. E que possa servir na prática, não só nas palavras”, cobra o ativista.