Foi a partir desse ponto de vista que as lideranças presentes na consulta pública do Termo de Referência para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Projeto Portocel II, em Barra do Riacho, realizada na última quinta-feira (08), se pronunciaram frente ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e ao empreendedor.
O descaso com a região é tamanho que nem mesmo a verba que precisa ser destinada a Unidades de Conservação (UCs) conseguiu ficar próximo às comunidades atingidas pela última expansão do Portocel – porto da Aracruz Celulose (Fibria). Em vez de investir na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas, ao sul, ou na Reserva Biológica de Comboios, ao norte, o dinheiro foi todo direcionado ao Morro do Aricanga, a 26km de distância. “Pode ter formalidade, explicação, mas a gente não aceita isso não”, questiona Herval Nogueira, morador de Barra do Riacho e ativista da Rede Alerta Contra o Deserto Verde.
Nenhum dos empreendimentos industriais instalados na região – Aracruz Celulose (Fibria) e suas expansões, Jurong, Portocel e suas expansões, Imetame … – trouxe os benefícios prometidos, alerta o ambientalista e liderança comunitária. Não houve geração de empregos – o bairro tem apenas uma única pessoa com emprego direto na Aracruz Celulose (Fibria) – e, ao contrário, aniquilação dos costumes tradicionais. “Não tem emprego e não tem a natureza pra tirar o sustento”, resume Herval.
Autoridades perversas
Cansados de promessas vazias e da inoperância do Estado, principalmente através da falta de estrutura do Iema, as três comunidades decidiram formar uma comissão para fazer sugestões e acompanhar de perto o processo de licenciamento da expansão do Portocel. A intenção é de fazer um seminário de meio dia com as lideranças e levantar as principais necessidades e reivindicações.
Entre elas, certamente, serão levantados o problema de saneamento básico, da qualidade da água – há mais de uma década que a população de Barra do Riacho convive com água amarela nas torneiras e precisa comprar água mineral para beber e sofre com alergias com a água do banho – da violência e criminalidade, da geração de emprego e de saúde pública – recentemente, tem sido observado um aumento expressivo do número de casos de câncer e de depressão nas comunidades.
“É muita carência”, lamenta Herval, citando a responsabilidade não só dos empreendimentos, mas também do Estado. “As autoridades são perversas. Não têm essa responsabilidade pra amenizar esses impactos, que elas mesmas ajudam a provocar”, acusa.