Um festejo que já homenageou o saudoso Mestre Terto e agora atravessará as águas do rio Cricaré, em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo, para homenagear o centenário de nascimento Hermógenes Lima Fonseca. O Ticumbi de Conceição da Barra neste ano carrega além da imagem de São Benedito, os cantos de homenagem a “Mestre Armojo“, como Hermógenes era conhecido.
A tradição se mantém detalhadamente. No dia 30, próxima sexta-feira, o Ensaio Geral de Ticumbi acontece na comunidade ribeirinha de Porto Grande, a partir das 20h – um momento particular para os realizadores e mestres de toda essa tradição. O dia seguinte, sábado (31), é quando acontece o momento mais simbólico que dará início ao festejo.
A procissão ritualística começa no rio saindo de Porto Grande em direção à comunidade de Barreiras, onde o São Benedito do Córrego das Piabas (foto ao lado) é levado até o cais de Conceição da Barra, e colocado lado a lado da imagem de São Benedito Padroeiro. Juntos ambos são carregados até a comunidade de São Benedito, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Um dos organizadores dessa tradição que percorre dezenas de anos é Jonas Balbino, presidente da Associação de Folclore de Conceição da Barra. Jonas calcula que por volta das 9h30 as imagens de São Benedito chegam com seus fiéis à Igreja e, assim, a missa iniciará realização.
Logo após, é iniciado o ato de ticumbi, em que seus 17 membros, vestidos de batas brancas, iniciam a dança ao ritmo de pandeiros, violas e cantigas. Os integrantes exibem-se na dança como uma elite negra que tem nas mãos uma tradição a prezar. No ato, a história contada é a seguinte:
Ao som de seis pandeiristas, o cenário é formado por dois reis – Rei Congo e Rei Bamba –, dois secretários de reis e um estandarte. Os integrantes encenam uma disputa entre os dois reis que, segundo a tradição do povoado, cada um quer realizar a festa de São Benedito à sua maneira. Diante do impasse, de frente para a Igreja Matriz, o auto inicia-se com a primeira guerra do Rei Congo, uma guerra sem travar, seguida da guerra travada com o Rei Bamba. Em meio às batidas de espada, a roda prossegue em animação até que o Rei Congo vença a batalha.
Composto por negros oriundos de famílias quilombolas, a dança é uma das expressões culturais mais antigas do local e que revela a luta e o orgulho negro, por isso mesmo, a manifestação é tão exclusiva para seu povoado, pois faz uma verdadeira ponte cultural entre o passado e o presente dos negros de Conceição da Barra.
Tradição que se incrementa à homenagem
Neste ano, aliado aos pontos altos da festa está a homenagem que vem sendo prestada ao folclorista e pesquisador Hermógenes Lima Fonseca (foto ao lado) – que tem sido lembrado pelo centenário de nascimento. “Neste mês fizemos o cortejo em homenagem a Hermógenes em Conceição da Barra. Esse momento foi a abertura de um leva de celebrações à figura dele que estamos fazendo no município. Hermógenes foi de extrema importância para nossa cultura e estamos resgatando essa relevância dele a partir de músicas, embaixadas e atividades que mostram quem ele foi”, explica Jonas Balbino.
Hermógenes foi grande responsável por atentar o povo capixaba para a importância da cultura popular regional, escrevendo artigos para jornais e revistas sobre o folclore local, além de alertar aos próprios mestres e grupos folclóricos sobre a importância de suas atividades.
Em sua trajetória, o folclorista trabalhou com bandas de congo de Vitória, envolveu-se na organização de festas populares de Conceição da Barra, conviveu com grandes mestres, deu aula em escolas para crianças sobre cultura popular e folclore e esteve na Comissão Espírito-Santense de Folclore. Sua mais representativa contribuição como pesquisador da cultura popular foi ter realizado estudos profundos sobre os impactos das transformações econômicas do Espírito Santo refletidos na dinâmica das manifestações folclóricas.
As homenagens a Hermógenes continuarão no Baile de São Benedito e São Sebastião, na segunda semana de janeiro, em que mais uma vez o ticumbi marca presença com seus fiéis e tradição.
Valorização da cultura popular de Conceição da Barra
Por trás da organização do evento há tantos anos, Jonas Balbino destaca uma boa fase que a cultura popular de Conceição vem passando. Além de parceiros e apoiadores em crescente quantidade, o acompanhamento dos festejos do município por parte do secretário de cultura do Estado, João Gualberto, é bastante notável.
“Temos visto a presença ativa do secretário no nosso folclore. Desde o ano passado ele tem dado um apoio amplo e irrestrito às nossas manifestações. João Gualberto se fez presente em nossa festa de Itaúnas, nos eventos menores que realizamos e há dois anos acompanha pessoalmente nossas festas. Além do auxílio e direcionamento a outros órgãos, ele tem se mostrado uma pessoa de significativo acesso e que valoriza nossas iniciativas daqui do norte do Estado. Isso é muito importante porque nunca tivemos um secretário estadual de cultura que esteve tão ligado às nossas manifestações”, explicou Balbino.
Serviço
A apresentação de Ticumbi em Conceição da Barra será realizada no dia 1° de janeiro de 2017, a partir das 9h30 em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Centro.
