As boas novas vêm da comunidade do Córrego São Domingos, em Conceição da Barra, onde o jovem Evaldo Jerônimo Florentino, filho de Berto Florentino, conquistou a liberdade provisória, e onde o próprio Berto conseguiu receber o Prêmio Mestre Armojo do Folclore Capixaba – Edição 2016, concedido pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult).
São duas vitórias importantes, num momento tão delicado da luta quilombola, em que a criminalização das lideranças pelas empresas, com cumplicidade do Estado, tenta minar a força das comunidades.
Evaldo foi apontado como suspeito de um crime e ficou preso, para investigação, durante 40 dias, sem que nenhuma prova pudesse ser encontrada contra ele. Até a conclusão da investigação, ele continuará sob liberdade provisória, mas a volta ao lar já é um alívio para a família e a comunidade do Córrego São Domingos.
Seu pai, Berto Florentino, por sua vez, conseguiu receber seu prêmio, após muita batalha para ter a certidão negativa por parte do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf). O órgão emitiu multas contra a liderança quilombolas em 2009, cujo valor, este ano, subiram para R$ 11 mil. O motivo é a atividade de produção de carvão, cuja licença ambiental ainda não foi emitida pelo órgão.
O Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH) tem clareza de que essa negativa de regularização da atividade – feita a partir de restos de eucalipto, de forma sustentável – se deve à pressão da Aracruz Celulose (Fibria), sendo mais uma faceta da perseguição e criminalização por ela empreendida. O PPDDH, porém, ainda não tem confirmação se a multa foi retirada ou se a certidão negativa foi emitida especificamente para a situação do Prêmio da Secult.
De qualquer forma, as comunidades comemoram e alimentam boas expectativas para 2017. Jonas Balbino, Rei de Congo do Ticumbi de São Benedito e presidente da Associação de Folclore de Conceição da Barra, ressalta a importância do turismo, principalmente em seu município. Itaúnas, polo turístico de nível nacional, irradia visitações também para as comunidades quilombolas do entorno, especialmente São Domingos, da família Florentino, onde está o Galpão do Ticumbi e onde acontecem os ensaios para o festejo, e também Angelim 1 e 2, que cuidam de uma Casa de Farinha reestruturada e uma horta medicinal agroecológica.
Em todas elas, os costumes quilombolas atraem a atenção dos visitantes, que acabam por levar artesanatos, plantas, beijus e outros produtos da mandioca, além de almoçar na comunidade, gerando trabalho e renda, fortalecendo a identidade, a autoestima e a sustentabilidade econômica.