Cabe ao Idaf legitimar toda a devastação ambiental vivida ainda hoje no Espírito Santo. E as justificativas técnicas estão sempre lá, muito bem escritas e embasadas por estudos acadêmicos “idôneos”.
O documento usado para ilustrar essa triste história da devastação da Mata Atlântica no Espírito Santo é a autorização para planto de 950 hectares de eucaliptos na Fazenda Eldorado II em Montanha/ES.
Um entre tantos, dezenas, centenas que vêm sendo aprovados em todas as instâncias, inclusive pelos conselhos estadual e regionais de Meio Ambiente (Consema e Conremas), onde a sociedade civil, verdadeira, crítica e independente, costuma ter uma cadeira, uma única voz destoante do hino obediente e servil ao capital insustentável dos grandes empreendimentos multinacionais.
Pois nesse laudo, como em tantos outros, a área pretendida, altamente degradada, é alvo de um conjunto de condicionantes que visam recuperar as Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Áreas de Reserva Legal (ARL), que trará “benefícios ambientais”, justifcando a aprovação do empreendimento.
Nesta sexta-feira (3), o Consema irá referendar o citado projeto, da Suzano Papel e Celulose S/A, com relação à mudança de local de destinação da compensação ambiental, definida em pouco mais de R$ 132 mil.
O conselheiro José Marques Porto, representante da ONG Associação Nacional dos Amigos do Meio Ambiente (Anama), explica que o projeto já foi licenciado em 2016, com a verba sendo destinada para Cariacica, mas que Montanha requereu e o Consema agora irá se posicionar sobre a transferência.
A Anama foi a única a votar contra a liberação do plantio, na época, tanto na Câmara Técnica de Licenciamento de Grandes Projetos, Acompanhamento de Condicionantes de Licenças Ambientais, Fiscalização e Compensação Ambiental, do Consema, quanto, depois, no Conrema I. “Somos contra o aumento indiscriminado da expansão monocultura eucalipto”, afirma José Marques.
“Não podemos mais licenciar esse tipo de empreendimento. O Espírito Santo já tem mais de 600 mil hectares de eucaliptais. E continua crescendo, não só no noroeste, mas também na região serrana e até no Caparaó!”, reclama o ambientalista.
E assim, de supostos “benefícios ambientais” totalmente descontextualizados da realidade do imenso passivo socioambiental que a silvicultura alimenta no território capixaba, vemos aumentar o poder da Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano. Os plantios licenciados de eucaliptos das duas multinacionais já ultrapassam em muito a área total considerada recuperada pelo programa Reflorestar, bola da vez no discurso estatal avesso ao compromisso com a sustentabilidade.