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Importação de robusta acirra queda de braço entre indústria de solúveis e produtores do ES

A queda de braço entre as indústrias de café torrado, moído e solúvel e os produtores de conilon, sobretudo os do Espírito Santo, se acirrou com as declarações do ministro Blairo Maggi sobre o impasse. O titular da Agricultura admitiu ao jornal Folha de S. Paulo que pode autorizar, nos próximos dias, a importação do robusta. 
 
Nos últimos meses, a indústria dos solúveis tem aumentado a pressão sobre o governo federal para liberar a importação. Eles alegam que os produtores brasileiros não têm como atender a demanda da indústria, sobretudo após a quebra da safra no Espírito Santo — maior produtor de conilon do País.
 
Desde que a pressão pela importação aumentou, a bancada capixaba, especialmente o deputado Evair de Melo (PV), muito ligado aos produtores capixabas, tem refutado os argumentos da indústria. Melo assegura que os produtores do Estado têm estoque suficiente para atender o mercado brasileiro. De acordo com a Cooperativa de Conilon do Espírito Santo (Cooabriel), há entre quatro a cinco milhões e meio de sacas de conilon em estoque. 
 
O secretário estadual de Agricultura, Octaciano Neto, ratifica a defesa de Melo e assegura que há café suficiente em estoque para atender o mercado nacional. “Não dá para admitir essa conversa da indústria de que não há café suficiente. Há sim. A Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] errou no levantamento que divulgou”.
 
Ele afirma que o governo do Espírito está empenhado em proteger os produtores capixabas. “O governo do Espírito Santo tem uma posição muito clara a respeito da importação de café. Somos contra”. 
 
Octaciano apresenta um conjunto de fatores para justificar a posição contrária do governo à importação. Ele destaca a crise hídrica que vem afetando o Estado. “Os nossos cafeicultores sofreram durante três anos a maior seca da história [do Estado], fazendo com que o custo da produção aumentasse rapidamente. Não faz sentido importar café para prejudicar um produtor rural que trabalhou e sofreu nos últimos três anos”. 
 
O secretário adverte sobre os riscos fitossanitários dos grãos importados trazerem doença ao café brasileiro. Sobre essa ameaça, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) apresentou um estudo, apontando os risco de pragas ausentes no Brasil serem contraídas em caso de importação de café da África, da Ásia e até mesmo da América do Sul.
 
O estudo, realizado pelos pesquisadores do Incaper Romário Gava Ferrão e José Aires Ventura, avalia o café conilon do Vietnã e de outros países, como da Etiópia e do Peru. Segundo os pesquisadores, foram identificadas ao menos quatro pragas nos grãos dessas regiões.
 
O Incaper alerta que se for autorizada a importação da Ásia, África ou do Peru, onde existem pragas que ainda não foram encontradas no Brasil, a produção cafeeira fica vulnerável.
 
O secretário de Agricultura destaca ainda que a legislação trabalhista é mais complexa no Brasil. Ele comprara, por exemplo, à legislação trabalhista do Vietnã, um dos principais candidatos a exportar conilon para o Brasil. “É mais caro produzir no Brasil do que lá [Vietnã]. Não existe um argumento sequer que se justifique a importação do café”, afirma Octaciano.
 
A cafeicultura é a principal atividade agrícola do Estado, presente em todos os municípios capixabas, em aproximadamente 60 das 90 mil propriedades, que envolve mais de 400 mil pessoas e 133 mil famílias, sobretudo pequenos produtores de base familiar.

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