Esse esclarecimento vital tem sido insistentemente divulgado pelos órgãos ambientais e cientistas, mas ainda perduram muitos casos de agressões e mesmo morte de macacos bugios em regiões rurais de Minas Gerais e, com menor intensidade, no Espírito Santo. O resultado é que os bugios (Alouatta) e também os micos ou saguis (Callithrix), que já estão ameaçados de extinção devido à redução de seu habitat e estão sendo dizimados pelo atual surto de febre amarela, têm sofrido mais essa ameaça por parte das pessoas desinformadas e amedrontadas.
“Como resultado desse triplo ataque, os pesquisadores acreditam que estamos assistindo a uma das maiores mortandades de primatas já registradas na história da Mata Atlântica. Em uma situação semelhante à atual, ocorrida entre 2008 e 2009, no Rio Grande do Sul, as mortes em decorrência da febre amarela, somadas àquelas decorrentes de agressões contra os macacos, levaram o bugio-ruivo a ser listado novamente como espécie ameaçada de extinção no Brasil (Portaria n° 444/2014, Ministério do Meio Ambiente)”, alerta a carta.
Visando ampliar o esclarecimento à população, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) divulgou nesta quinta-feira (16) uma carta assinada por primatólogos do Brasil e do exterior, incluindo zoólogos, ecólogos, médico-veterinários, epidemiologistas e gestores públicos das áreas de saúde e meio ambiente, com informações científicas detalhadas sobre a febre amarela e a relação dela com os seres humanos e os macacos.
Na carta, os especialistas explicam que a febre amarela foi introduzida no Brasil a partir da África há centenas de anos e não é contagiosa. E que os macacos, assim como os humanos, não transmitem diretamente a doença, papel desempenhado exclusivamente pelo mosquito. Nas matas, dois mosquitos já identificados como transmissores: Haemagogus e Sabethes. No ciclo urbano da doença (não registrado no Brasil desde 1942), o vetor transmissor é o Aedes aegypti.
Humanos são os maiores dispersores da doença
Sobre os mecanismos de dispersão da doença em vastas extensões geográficas, os especialistas ainda buscam explicações, mas afirmam que “é altamente improvável que os macacos levem a doença adiante por grandes distâncias. Os mosquitos são vetores-reservatórios (transmissores do vírus) e, embora não seja cientificamente comprovado, pessoas não vacinadas e infectadas pelo vírus poderiam, em tese, transportá-los por grandes distâncias e contribuir para essa disseminação”, explicam.
Os humanos, porém, quando vacinados, não só não adoecem, mas também não contribuem para o deslocamento do vírus. Daí a importância da vacinação preventiva, segundo critérios do Ministério da Saúde.
Outra forma de controle fundamental é a preservação dos habitats naturais dos macacos, pois a febre amarela é uma doença intimamente ligada à degradação ambiental. Sempre que há algum grande desequilíbrio ambiental, é grande a probabilidade de um surto.
Uma nota de esclarecimento público produzida pelo governo federal, por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, do ICMBio, está disponível no site do Instituto. E no facebook, um grupo de pesquisadores e colaboradores tem atualizado informações na página de Protetores dos Anjos.