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Pesquisadores em alerta sobre febre amarela em Muriquis

Pesquisadores do Espírito Santo estão em alerta quanto à expansão da febre amarela sobre a população de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Desde que o surto começou, em janeiro deste ano, o monitoramento é constante, mas, apesar de ainda não ter sido registrado nenhum caso de contaminação nas matas capixabas, a mortandade já ocorrida em Minas Gerais elevou o estado de alerta.
 
O primatólogo e professor da Universidade Federal do Espírito Santo Sergio Lucena Mendes, coordenador do Projeto Muriqui/ES, relatou, em reportagem publicada no jornal O Globo desse sábado (18), que a febre amarela já fez reduzir em 11% a população de muriquis de Caratinga.
 
O Muriqui-do-norte é endêmico da Mata Atlântica brasileira e um dos primatas mais ameaçados do mundo, considerado Criticamente Em Perigo – a classificação mais elevada de ameaça – em níveis estadual, nacional e internacional, segundo critérios da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
 
O Espírito Santo abriga a segunda maior população conhecida da espécie, concentrada principalmente em Santa Maria de Jetibá e na Serra do Caparaó. Estima-se que o Caparaó possa abrigar uma população ainda maior que a de Caratinga-MG, devido à extensão da floresta e seu bom estado de conservação, mas os estudos ainda não confirmaram a hipótese.
 
Barbado é a maior vítima
 
Em Carantinga, os muriquis se concentram especialmente nas matas da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala, preservada pela família proprietária há gerações. Lá, pesquisadores do mundo inteiro estudam os muriquis há mais de vinte anos, conhecendo seus hábitos e a dinâmica de crescimento e comportamento da população.
 
Em ambos os estados, a espécie que tem sido mais vitimada pela doença é a dos barbados ou bugios (Allouata guariba). No Espírito Santo, mais de 700 carcaças já foram encontradas nas matas, a maioria do barbado. 

 

Cintia Corsini, bióloga do Projeto Muriqui/ES, conta que, além do barbado, há registros do Sagui-da-serra (Callithrix flaviceps) – também Criticamente Em Perigo e habitando apenas regiões de altitude superior a 700 metros – e, em menor quantidade, do Guigó ou Sauá (Callicebus  personatus) e do Macaco-prego (Sapajus nigritus), este último encontrada no interior da Reserva Biológica de Duas Bocas, em Cariacica.
 
Sergio Lucena informa ainda que, as mais de 700 carcaças encontradas representam apenas de 10% a 20% do total real de mortes. Dos 700 casos, porém, por enquanto, apenas dois foram confirmados para febre amarela, nos municípios de Irupi e Colatina. Todos os demais estão ainda sendo investigados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).
 
Recuperar as florestas é urgente
 
A equipe do Projeto Muriqui está integrando uma aliança de pesquisadores reunidos para pesquisar o avanço da febre amarela silvestre no Estado. São duas frentes principais de investigação: o monitoramento das mortes dos primatas – temporalidade e espacialidade – e a virulência nos mosquitos, ou seja, a incidência do vírus da febre amarela sobre as populações de mosquitos transmissores em diversas regiões.  O objetivo é conhecer a dinâmica do surto e delinear ações preventivas no futuro.
 
As causas do atual surto, que está causando a maior mortandade de macacos já registrada na Mata Atlântica brasileira, ainda não podem ser afirmadas. O desastre sem precedentes provocado pelo crime da Samarco/Vale-BHP é um dos elementos que está sendo pesquisado, pois é consenso entre os pesquisadores de todo o país que os surtos de febre amarela sempre surgem a partir de um grande desequilíbrio ambiental em uma dada região.
 
A recuperação da floresta, com a maior diversidade possível de espécies da fauna e da flora, é, a longo prazo, a maior medida preventiva de novos surtos. Os macacos, especialmente, enfatiza Sergio Lucena, são sentinelas da febre amarela. Longe de serem ameaça aos seres humanos – não justificando, em hipótese alguma, portanto, o medo e mesmo agressão das pessoas contra esses animais – os macacos sinalizam onde a doença começa a se instalar, permitindo que medidas preventivas sejam tomadas em favor das populações humanas, entre elas, a vacinação. 

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