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Com ‘toque de recolher’, Luciano mexe com o principal lazer dos moradores: os bares

Amparado em um Termo de Compromisso Ambiental (TCA) tecido com o Ministério Público Estadual (MPES), o prefeito de Vitória Luciano Rezende (PPS) defende o recolhimento de mesas e cadeiras às 23h pelos bares da Rua Sete de Setembro no Centro de Vitória. Não se sabe o que o prefeito, que completou 55 anos de idade na última quarta-feira (22), fez de sua vida noturna em Vitória nos últimos 30 anos. Mas também não se sabe também se ele, médico e ex-atleta, é dado a tais espairecimentos. 
 
Neste ou naquele caso, não importa: Luciano Rezende deveria conhecer a cidade que administra. 
 
O TCA foi anunciado publicamente há pouco mais de duas semanas, mas, em verdade, vigora desde pelo menos o dia 23 de fevereiro, a quinta-feira pré-Carnaval, quando bares da Rua Sete foram notificados. Às 22h30 da sexta-feira (24), fiscais da Secretaria de Municipal de Meio Ambiente (Semman) já estavam a postos numa festivamente apinhada Rua Sete, monitorando o movimento, aguardando o mínimo o vacilo, que veio com o Choperia da Praça. 
 
O mais requisitado bar da ex-Rua Viva foi multado em plena sexta-feira de Carnaval, inaugurando o toque de recolher de Luciano Rezende, que, se começou virado do avesso – condenando uma festa de rua que há muito Vitória não tinha – prosseguiria virado do avesso – ameaçando o principal eixo do entretenimento da cidade. Como se sabe, em Vitorinha, cidade cuja programação cultural excepcionalmente cruza as raias do razoável, sai-se à noite basicamente para comer e beber.
 
Não à toa o prefeito estarreceu donos de bares em reunião semana passada. Embora tenha se colocado no lugar dos moradores que estrilam – com razão – do barulho, tenha pedido a colaboração deles para fiscalizar os excessos, passou a mensagem de que não entende a matemática da vida noturna da cidade que lidera. O que para muitos é simples – sem os bares, uma vez que recolhimento de mesas às 23h significa fechá-los, o Centro morre – para Luciano ainda parece um enigma, algo distante e insondável. 
 
O caso do Centro de Vitória não deveria nem ter ocorrido. Mas ocorreu. Se ocorreu, deveria ser o único. Não é. O Bar Biritas, em Jardim da Penha, também sentiu a mão tão pesada quanto estabanada da prefeitura ao testemunhar a apreensão de uma arquibancada que já integrava a paisagem local por fiscais da prefeitura e, assim, pôr a perder o Som de Fogueira, projeto musical gratuito promovido pelo bar realizado há dois anos.
 
Tanto no Centro quanto em Jardim da Penha a reclamação contra excessos são legítimas. Ilegítimo é uma prefeitura recrudescer problemas ao invés de resolvê-los. 
 
A mesma sanha vigilante chegou ao Projeto Choromingo, que acontece aos domingos de manhã em Jardim Camburi. Não tem bar no meio, mas o projeto, tanto quanto os casos de Jardim da Penha e do Centro, são rebentos da mesma madrasta: a, digamos, singeleza cultural de Vitorinha, a tentativa criar vida além das libações das mesas de bar.
 
Mas, fica a dúvida, tanto no Choromingo, quanto na Laminha, reduto boêmio de Jardim Camburi, a prefeitura não mostrou a mesma disposição que teve, por exemplo, no Centro. Ali, Luciano parece estar pisar em ovos. Por que esse respeito por Jardim Camburi? Curiosamente, os corredores da política capixaba registram que o vereador licenciado e agora supersecretário de Luciano, Fabrício Gandini (PPS), cujo reduto eleitoral é no bairro, é uma das poucas vozes que o prefeito ouve.

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