Em entrevista à coluna Praça Oito, do jornal A Gazeta, desta sexta-feira (31), o secretário de Gestão Estratégica da Prefeitura de Vitória, Fabrício Gandini (PPS), jogou a pressão para cima do governador Paulo Hartung (PMDB) sobre a possibilidade de a prefeitura romper a concessão do serviço de água e esgoto da Capital com a Cesan.
Gandini afirmou que recebeu uma ligação do governador nessa quinta-feira (30), ao saber que a municipalidade contratou um estudo de viabilidade sobre o sistema de água e esgoto. O secretário disse ainda que a conversa não foi amigável, mas, diferentemente do que se tem visto em relação à classe política do Estado, Gandini não se abalou com o tom ???não amigável do governador???, ao dizer que é preciso ???conversar??? sobre o tema.
O secretário deixou claro que está disposto a conversar, sim, mas que não há possibilidade de paralisar o processo já disparado pela prefeitura de estudo de viabilidade. A posição firme de Gandini joga para o governo a pressão sobre o debate. Segundo o secretário, a permanência da concessão na mão da Cesan vai depender da conclusão do estudo de viabilidade da proposta e não por uma pressão palaciana.
Quando se refere à relação com a empresa, o secretário deixa transparecer que mais do que o serviço prestado, o problema é a falta de acesso da municipalidade às informações da companhia. Assim como acontece com a relação com o governo do Estado, daí o viés político que a discussão ganhou.
Como o prefeito Luciano Rezende (PPS) é desafeto político do governador, a discussão se transformou em uma batalha nos bastidores, que encurralou o governo em um de seus principais projetos para este ano. O Estado vem repassando as concessões aos pedaços, como já fez em Vila Velha, mas o principal interesse de no processo de venda da empresa é a Capital.
Neste sentido, Gandini deixa a situação incerta, ao dizer que não há interesse do município para que a Cesan deixe de operar em Vitória, mas para que ela permaneça fazendo a gestão, a relação com a prefeitura precisa mudar.
No pré-estudo apresentado por uma empresa do Paraná, interessada em gerir o serviço, o valor do contrato de concessão foi estimado em R$ 3,18 bilhões, pouco mais do que o valor máximo que o governo poderia arrecadar com a venda da empresa.
A projeção foi divulgada no início do mês pelo banco BTG Pactual, em relatório enviado para investidores nacionais e estrangeiros. O documento afirma que a empresa não está à venda, mas estima o valor do mercado em caso de negócio, que varia de R$ 1,9 bilhão até R$ 3 bilhões.
O relatório destaca a ???alavancagem relativamente baixa??? e alto valor de ativos fixos, o que renderia até R$ 3 bilhões em uma privatização. A projeção considera as PPPs da Serra e Vila Velha, cujos acordos vão até os anos de 2043 e 2055, respectivamente. Esse modelo já é considerado como um processo de privatização, muito embora a Cesan opere também em outros 50 dos 78 municípios capixabas. Hoje, a companhia cobre 82% dos serviços de água e 47% do tratamento de esgoto no Espírito Santo.
O documento também cita as principais empresas que atuam no setor privado: a Aegea Saneamento e Participações S/A, que venceu a licitação para concessão em Vila Velha e a Odebrecht Ambiental, responsável há mais de uma década pelos serviços de água e esgoto em Cachoeiro de Itapemirim, na região sul.
Para os meios políticos, embora os emissários do governador Paulo Hartung tentem jogar a politização do tema somente no colo da prefeitura, o próprio governo vinha usando a possibilidade de venda da Cesan como uma possibilidade de terminar o mandado com dinheiro em caixa. Mas a movimentação em Vitória joga por terra o discurso, pois tira o principal atrativo para a que o governo pudesse fazer negócio com a companhia de saneamento.