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Tom Boechat estreia mostra individual que aborda a representação do corpo feminino

A temática do nu feminino/representação da mulher sempre esteve presente na produção fotográfica de Tom Boechat, contudo, durante muito tempo ela não figurou em espaços de exposição do fotógrafo. Esse 'esconderijo' por onde esteve a temática foi uma escolha de Boechat ao longo desses anos. “Algumas das razões que me impediam de mostrar trabalhos com o nu feminino era porque eu não gostava de nada do que fazia. Não que o que eu esteja fazendo agora seja algo inovador, mas é um trabalho que me provoca mais, inclusive pelos ruídos”, pontua o fotógrafo.
 
O trabalho do qual ele menciona é sua nova exposição, e primeira individual, que chega ao público na próxima quinta-feira (6), na Galeria Espaço Universitário (GAEU), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Goiabeiras, Vitória. Intitulada O Êxtase de Teresa, a exposição aborda o gozo feminino a partir de seis imagens expostas em grandes tamanhos e na técnica de outdoors – “para serem outdoors de fato só precisariam chegar à rua”, comenta ele.
 
Enquanto a montagem da exposição segue na GAEU, o fotógrafo programa discussões e conversas para serem realizadas no espaço ao longo da estada da exposição no local – que estará por lá até 19 de maio. A proposta é que o nu e o gozo feminino sejam discutidos por pessoas diferentes e com abordagens diversas, como a psicanalista Bartyra Ribeiro de Castro, no dia 4 de maio; além de Fábio Camarneiro, professor do Departamento de Comunicação da Ufes, que tratará do sexo na literatura e no cinema, no dia 9 de maio; entre outros convidados.
 
Em O Êxtase de Teresa o público verá um trabalho que se relaciona com cinema. Boechat passou cerca de um ano analisando filmes com cenas de mulheres em pleno gozo. Ao encontrar momentos como esse ele pausava o filme, tirava uma foto apenas da expressão facial da atriz e, assim, chegou aos seis rostos que compõem a mostra.
 
“Optei por apresentar essas fotografias de um modo diferente das fotografias de arte que geralmente prezam pelas altas resoluções. A ideia foi fazer o contrário, com diversas camadas de ruídos, desde a câmera que escolhi para tirar a foto da expressão das mulheres, até o tratamento e a forma de imprimir essas fotos como outdoors em cada parede da Galeria – técnica que já gera mais ruído”, explica Boechat.
 
Para chegar a essas seis fotos o fotógrafo assistiu a muitos filmes até decidir pelos seis que entraram na mostra. São eles: Dona flor e seus dois maridos (1976); A bela da tarde (1967); O império dos sentidos (1976); O porteiro da noite (1974); e Foxy brown (1974). “Percebi que todos eles eram da década de 60 e 70, sem querer. E pensando sobre isso, consigo perceber também o cinema dessa época com um viés mais livre na temática que trabalhei, principalmente por ser uma época em que a revolução sexual feminista estava em voga. Era uma época que me parece que o cinema tinha essa pegada mais libertária, mas é só uma suspeita minha, pois não sou estudioso dessa área”, pontua.
 
A exposição chega na tentativa de tratar o nu e o gozo feminino  sem cair nas abordagens comuns, mesmo que Boechat perceba ser um trabalho difícil. “Comecei a pensar em como tratar esse tema sem cair na objetificação do corpo da mulher, de modo a tratar o corpo feminino a partir do olhar masculino, mas tentando questionar esse sistema da objetificação – claro que por ser homem já estou inserido nessa cultura que objetifica o corpo da mulher, mas posso tentar questioná-la”, conclui.

O nome da exposição

Criada entre 1647 e 1652, a escultura O Êxtase de Santa Teresa (foto ao lado), do italiano Gian Lorenzo Bernini, retratou Santa Teresa de Ávila em pleno gozo espiritual no frêmito de um corpo mortificado por provações. É a partir disso que Tom Boechat emula a santa que gozava em sua nova exposição. O fotógrafo representa uma outra Teresa. Sai a santa reprimida, que atinge a maioridade na transição da Idade Média para a Idade Moderna, e entra a mulher secularizada, carnal, desfrutando o próprio corpo e procurando deliberadamente o gozo.

Serviço

A abertura da exposição O Êxtase de Teresa tem realização na próxima quinta-feira (6), a partir das 19h, na GAEU – Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória. A entrada é livre e as visitações podem ser feitas até o dia 19 de maio, de segunda a sexta, das 7h às 19h. 

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