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As mulheres inventaram e reinventam a agricultura

“Da inteligência das mulheres que se descobriu que algumas sementes nasciam e outras serviam para comer. Daí surgiu a agricultura, as colheitas, a fartura”, conta a agricultora Selene Hammer Tesch, presidente da Associação de Agricultoras e Agricultores de Produção Orgânica Familiar de Santa Maria de Jetibá (Amparo Familiar) e embaixadora da Região Sudeste na Campanha #MulheresRurais, Mulheres com direitos, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU).

Essa história da invenção da agricultura pelas mulheres tem sido revelada apenas recentemente. A própria Selene conta que só foi saber disso há cerca de três anos. Mas muito antes disso, já afirmava o protagonismo feminino no crescimento da agricultura orgânica.

“Nas feiras, onde tem mulher na barraca, vende mais. Ela tem mais carisma pra trocar receitas e ideias. A mulher se interessa por novidades. E na roça, ela tem mais delicadeza pra cuidar das plantas, da terra. Hoje, quem contrata diarista pra ajudar na roça, prefere contratar mulher”, relata Selene.

Machismo ainda prevalece

“Mulheres são as ‘mães terra’, se preocupam com o alimento dos seus filhos”, poetiza a líder feminina que, antes de fundar a Amparo Familiar, havia participado, durante dez anos, de outra associação de agricultura orgânica no município, onde percebia o machismo predominante. “A gente não tinha direito de voto. Eu vi muita coisa que não estava de acordo. Queria mais oportunidades pras mulheres”, conta.

Selene lamenta que o pomerano é um povo muito conservador e machista e cita uma analogia recorrente entre os seus sobre o antes e depois do casamento, em que, primeiro, é “a mulher que vai na frente e o homem, atrás”, atraído por ela, seguindo-a, cortejando-a; mas depois do casamento, a mulher fica sempre atrás, submissa.

A líder feminina conta que muitas mulheres lhe confidenciam: “queria ter a sua liberdade!”. Mas ninguém sabe, revela a agricultora, “o que eu passei pra conquistar isso”. “Tem que educar seus filhos”, ensina. “E as mulheres que trabalham comigo, a gente conversa muito sobre isso, sobre conquistar mais liberdade e aproveitar mais as oportunidades, a vida”, conta.

Associação As Mães da Terra

Nesse sentido, Selene está reativando a Associação As Mãe da Terra, cujo objetivo é “fortalecer as mulheres e trazer recursos para resgatar a cultura e o artesanato pomerano, ensinar as danças tradicionais pros jovens, incentivar a agricultura mais saudável, a agroindústria … criar independência das mulheres”, explica. “A mulher tem que se redescobrir para não ficará à mercê dos homens”, convoca.

A agricultura orgânica, desenvolvida pela Amparo Familiar, dá base para o trabalho da Mães da Terra, que envolve também a alimentação saudável, as relações familiares e comunitárias saudáveis, a valorização da identidade cultural.

“A primeira coisa a mudar pra ter saúde é o conceito alimentar: você é aquilo que você come”, afirma Selene. “Menos enlatados e mais in natura”, enuncia. “E preparar o próprio alimento”, complementa. “Ninguém mais quer dedicar tempo pra preparar o próprio alimento, mas isso é muito importante”, reforça.

Para ela, a depressão, um dos males da atualidade, precisa ser tratada com a preservação da terra. “Quem trabalha com veneno não tem tempo pra lazer e se divertir. Quando tira tempo é pra cachaça, homens e mulheres”, lamenta. O remédio, ensina a feminista, é “Viver naturalmente e tomar chás pra imunidade e para a mente. E ter mais convívio social”, ensina.

A assembleia para eleição da nova diretoria da Associação Mãe da Terra acontece no próximo dia 17 de abril e será o pontapé pra recomeçar um trabalho grandioso com as mulheres pomeranas do campo. Mais uma etapa da “reinvenção da agricultura” pelas mãos femininas. 

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