Mesmo tendo sido atingidas pela lama de rejeitos a partir do dia 20 de novembro – quando ela alcançou o mar, depois de degradar todo o vale do Rio Doce a partir da cidade mineira de Mariana – quase duas dezenas de comunidades, localizadas nos municípios de Serra, Aracruz, Linhares e São Mateus, somente foram reconhecidas como atingidas pelo maior crime socioambiental da história do pais dezessete meses depois.
Foi na reunião do dia 31 de março do Comitê Inteferderativo (CIF), realizada em Belo Horizonte, quando a presidenta do CIF, Suely Mara Vaz Guimarães Araújo, assinou a Deliberação nº 58, em que são elencadas as comunidades reconhecidas como impactadas, destacando-se: Urussuquara, Campo Grande, Barra Nova do Sul, Barra Nova do Norte, Nativo, Fazenda Ponta, São Miguel, Gameleira e Ferrugem, em São Mateus; Pontal do Ipiranga, Linhares, Barra Seca, Regência, Povoação e Degredo, em Linhares; Portal de Santa Cruz, Itaparica, Santa Cruz, Mar Azul, Vila do Riacho, Rio Preto e Barra do Sahy e Barra do Riacho, em Aracruz; e Nova Almeida, na Serra.
Dessas, todas as de São Mateus e a maioria de Aracruz ainda não haviam sido reconhecidas até então, passados quase 17 meses do crime.
A Deliberação diz ainda que a “Fundação Renova deverá dar início ao Programa de Levantamento e de Cadastro dos Impactados nessas comunidades, no prazo máximo de 30 dias a partir da data da aprovação dessa deliberação, com o objetivo de averiguar os impactos socioeconômicos advindos do desastre e direcionar os programas socioeconômicos a estas comunidades, quando couber”.
Parece Camburi
Até o momento, no entanto, a única presença da Renova e da Samarco na região é a da lama, que continua matando os peixes e mariscos, aprofundando o estado de abandono, miséria e desespero das famílias. “A lama e o minério já fazem camadas na areia da praia. Em Barra Nova, tá grudada nas pedras. E a gente vê, onde a maré não chega, a areia tem cor de areia. Onde ela chega, a areia tá coberta de um pó preto”, conta Eliane, comparando com a poluição da Praia de Camburi, em Vitória.
“Os sururus só estão com a casca, não tem nada dentro. E os caranguejos que ainda se consegue pegar, morrem com menos de 48 horas. Antes, eles viviam vários dias”, lamenta a coordenadora do Fórum Ampliado.
Outra reivindicação da comunidade de Campo Grande, que é o apoio da Renova para a realização do 17º Festival do Caranguejo, previsto para os dias 19 a 21 de maio, também não obteve qualquer resposta até o momento.