Foto: Leonardo Sá/Porã
Este ano, a edição capixaba da Marcha da Maconha tem um recado direto e reto aos usuários: que saiam do armário. A crise política que desestabiliza o Brasil empurrou para o segundo plano o debate sobre a descriminalização da maconha – que, mesmo a passos lentos, avançava no Supremo Tribunal Federal (STF). O jeito, como diz a página do evento no Facebook, é o usuário reivindicar na rua o direito de usar a erva, seja de forma recreativa, seja de forma medicinal.
A marcha sairá neste domingo (7), às 16h20, do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória.
“Se todo maconheiro esparrasse, a gente ia legalizar rápido. Não fala porque tem medo de perder o emprego, de críticas da família, da igreja. Mas as escolhas pessoais têm que vir acima de qualquer coisa”, pondera Aary Machado, um dos organizadores da marcha. “Café, açúcar, energético também são drogas. Açúcar mata muito mais que maconha, cocaína e o tráfico. É uma distorção completa de valores”, continua.
Apesar da crise política, Machado não vê retrocesso no debate sobre a legalização da maconha. “Está no mesmo patamar. O importante para o judiciário não é a posição popular, mas o posicionamento global sobre o tema”, diz, completando que a tendência mundial é rever a chamada “guerra às drogas”. “Essa guerra só alimenta a indústria bélica. Ela foi perdida. Não existe nenhum país no mundo em que a repressão às drogas deu certo”.
Os ativistas pró-cannabis defendem uma mudança de paradigmas na política brasileira de drogas. Cobram principalmente a autorização de cultivo para consumo próprio e o fim da “guerra às drogas”. Eles consideram o cultivo doméstico um meio para não lidar com o mercado ilegal, se esquivar do estereótipo de financiador do tráfico e acessar produtos de melhor qualidade.
Em Vitória, Aary observa uma recepção antagônica em relação ao uso de maconha, que, no final reflete de certa formaa atual tensão política. “A gente observa que as pessoas estão mais tolerantes com o usuário. Mas também existem grupos, com tendência mais à direita, para quem o usuário é bandido. São as mesmas para quem ‘bandido bom é bandido morto’”, analisa.
“A marcha não incentiva ninguém a levar maconha. Estamos ali para discutir o assunto”, fala. No entanto, Machado é muito claro sobre a principal novidade da marcha deste ano: “Pode colocar aí: vai ter distribuição de drogas”, diz, com certo mistério.