O estudo é financiado pelo Coletivo Rio de Gente, gerenciado pela ONG ambientalista Greenpeace. A proposta é testar três diferentes técnicas de restauração (plantio de mudas arbóreas nativas, semeadura de espécies arbóreas nativas intercalada com semeadura de adubação verde, plantio de mudas arbóreas nativas com semeadura de adubação verde) em duas situações de uso do solo (pasto abandonado e solo com lama de rejeito).
De acordo com os pesquisadores, a lama de rejeitos não apenas destruiu as árvores ao redor do rio, como também impediu o solo de se recuperar, pois formou uma crosta de rejeitos de mineração que impede o nascimento de novas espécies. Ainda segundo os autores da pesquisa, a recuperação das matas ciliares é essencial, pois elas formam uma cobertura protetora e evitam assoreamento e erosões do solo, fazem a manutenção de aquíferos através do aumento da permeabilidade dos solos à água das chuvas, e produzem matéria orgânica que entra na cadeia alimentar da fauna aquática.
Metodologia ainda não existe
“A heterogeneidade dos rejeitos, em termos de profusão e composição, e a heterogeneidade da influência da água nesses rejeitos, mostra que precisamos desenvolver uma metodologia que ainda não existe e que seja baseada em melhor qualidade e menor custo”, afirma o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, coordenador do projeto, ao lado do engenheiro agrônomo André Gustave Nave.
A avaliação de eficiência é feita pelas seguintes variáveis: parâmetros estruturais da vegetação (altura das árvores, área basal, densidade de indivíduos, tamanho de copa, etc.); parâmetros funcionais (cobertura do solo, condições físico-química dos solos etc); e análise de custos (análise dos custos referentes à aquisição de sementes, mudas, insumos, mão de obra, maquinário e do rendimento – hora-homem).
“Os resultados preliminares indicam que a metodologia que utiliza mudas nativas com adubação verde na entrelinhas foi o mais eficaz para o brotamento das primeiras mudas”, explica Rodrigues. Uma segunda fase, no entanto, que deve durar até setembro de 2017, deve apontar os resultados referentes ao crescimento das mudas.
Os testes já foram iniciados e seus resultados serão verificados ao longo do tempo. De acordo com o engenheiro agrônomo André Nave: “numa situação normal, em torno de um ano e meio a dois anos, já conseguiremos ter um aspecto de capoeira, com uma floresta diversa, que vai se desenvolver e transformar em uma floresta madura. Quando a gente tem uma situação que é o extremo, no nosso caso aqui, eu suponho que isso possa demorar três, quatro, cinco anos, dependendo das condições de solo.”
Para a coordenadora da Campanha de Água do Greenpeace, Fabiana Alves, recuperar as florestas nas margens do Rio Doce é uma maneira de ressuscitá-lo. “A empresa Samarco, infelizmente, não fez nenhum tipo de restauração às margens do rio, limitando-se a plantar um mix de gramíneas e leguminosas, o que o estudo vem mostrar que não recupera a vegetação e nem o rio”, ressalta.