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Aquaviário: humilde e sorridente, Carnelli não dá certeza de nada

Humilde, simpático, atencioso e sorridente, o secretário estadual de Transportes e Obras Públicas, Paulo Ruy Carnelli, não alimentou as ilusões de ninguém durante a reunião da Comissão de Infraestrutura e Mobilidade Urbana da Assembleia Legislativa, nesta segunda-feira (29). Ao condicionar o retorno do Sistema Aquaviário à recuperação econômica estadual e à elaboração de estudos “mais pé no chão”, envolveu o principal objeto da reunião em incertezas. Segundo Carnelli, cumpridos esses requisitos, o sistema poderá retornar “em algum momento”.
 
Carnelli foi elegante até para ressalvar o edital do Sistema Aquaviário elaborado pelo “governo anterior” – referiu-se, claro, à gestão Renato Casagrande (PSB). Segundo ele, o edital da gestão socialista era “fortemente subsidiado”. Algo em torno de R$ 700 milhões por ano. “O Estado não está em um momento econômico para isso”, evadiu-se, em seguida.
 
Até ali, o secretário fizera apenas uma retrospectiva do ocaso do sistema. Começou a operar no final da década de 70, atingindo um pico de cinco milhões de passageiros por ano. A inauguração da Segunda Ponte, em 1979, provocou o primeiro baque na demanda ao facilitar o transporte coletivo e individual. O sistema perdeu um milhão de passageiros/ano. A implantação do Sistema Transcol, meia década depois, e a inauguração da Terceira Ponte, uma década depois, foram dois novos golpes. A demanda despencou de cinco milhões de passageiros/ano para menos de um milhão.
 
O secretário arrematou esse histórico o fator político-econômico que decretou o fim do transporte hidroviário. As empresas de ônibus iniciaram uma queda de braço contra os barcos por não concordar que o subsídio ao Sistema Transcol bancasse também o Sistema Aquaviário. A queda de braço, como se sabe, foi vencida pelas empresas de ônibus. Daí Carnelli destacou a necessidade de reformular o perfil do sistema. Este, pontuou, deve, agora, atender pequenas demandas e operar como um complemento do Transcol. Ao final, no entanto, para não alimentar ilusões, deixou uma nebulosa ressalva, segundo a qual a história mostra que o Aquaviário não avançou quando as condições de transporte rodoviário melhoram.
 
O presidente da comissão, Marcelo Santos, sugeriu uma visita ao sistema de barcas da cidade do Rio de Janeiro. Carnelli disse achar importante essa visita.
 
O Sistema BRT (vias exclusivas para ônibus) também foi contemplado pelo talento do secretário de Transportes para a imprecisão temporal. Carnelli começou afirmando que o governo federal estimulou nos últimos anos o transporte individual, o que redundou na disputa por espaço entre carros e ônibus. No entanto, garantiu que o projeto de vias exclusivas continua na secretaria, aguardando um “momento estável da economia”. E mais uma vez, ele ceifou qualquer ilusão: “algum dia, se Deus quiser, nós vamos implantar esse sistema”.
 
Ele celebrou o projeto de integração entre o Transcol e os sistemas municipais de Vitória e Vila Velha. “Tende a melhorar a oferta e reduzir custos”, disse, já que elimina sobreposição de linhas. Ele não acenou para a construção de um terminal de passageiros, em Vitória e explicou que o novo sistema deve operar por bilhete único O membro efetivo Amaro Neto (SD) levantou, então, uma dúvida pertinente: e os moradores dos morros da capital capixaba, que utilizam os microônibus, como vão ficar? A resposta veio um tanto mais iluminada, mas, bem ao gosto do personagem, preservou certo mistério: “Vamos manter o que existe de bom, e até ampliar. Esse é o trabalho que os técnicos irão fazer”.
 
Além de Marcelo Santos e Amaro Neto, os deputados Jamir Malini (PP), Rodrigo Coelho (PDT) e Esmael Almeida (PMDB) também participaram da reunião.
 
Carnelli também repassou questões como a licitação do Transcol, questionada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ele explicou que as modificações, como melhorar a oferta de ônibus, foram feitas pela secretaria e acatadas pelo órgão em dezembro do ano passado. Hoje, disse, o sistema está “funcionando dentro da normalidade, mas com certo grau de dificuldade em função da crise”. Como se vê, o secretário sacou o discurso da crise sempre que pôde.
 
Também disse que o governo tenta captar recursos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a implantar o projeto de faixa à direita para ônibus e realizar melhorias em pontos e terminais. Aqui pela primeira vez ele deu um prazo para as ideias deixarem os papéis: dois anos.
 
Falou também que o projeto Portal do Príncipe, uma remodelação da entrada Sul de Vitória, está “quase pronto”, com expectativa de licitação para este ano. Destacou, ainda, que a segunda fase do projeto de ampliação da Avenida Leitão da Silva está com obras contratadas. Ele deu explicações da demora para a conclusão de uma obra iniciada em março de 2014: o projeto apresentado pela gestão Casagrande não contemplava o sistema de drenagem como a Prefeitura de Vitória especificava. Uma obra nova poderia ser comprometida por qualquer chuva forte. O trabalho, então, foi contemplar a drenagem da região. E também informou que as obras do Cais das Artes, na Enseada do Suá, irão para a terceira licitação.
 
Ao final, legou à comissão uma mensagem edificante: “Eu acho que o transporte coletivo precisa ter o carinho que nós estamos tendo hoje aqui e de uma forma ampliada”.

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