Morro da Onça, com seus mutirões mensais, Angelim 2, com suas caixas secas, e Macuco, se destacam, mas o movimento ocorre em todas as dez comunidades hoje existentes no Território. “Todas estão nesse processo de reflorestamento”, afirma Gessi Cassiano, liderança na comunidade de Linharinho e coordenadora-geral da ong Associação de Programas em Tecnologias Alternativas (APTA), uma das mais antigas e atuantes na difusão da agroecologia e agricultura orgânica no Espírito Santo.
A APTA tem dado apoio aos mutirões, após identificar, durante um diagnóstico feito este ano dentro das comunidades, que a demanda mais urgente era a água. Após meio século de monocultura de eucaliptos, as terras usurpadas pela Aracruz Celulose (Fibria) estão extremamente degradas e centenas de nascentes e córregos secaram. A crise hídrica na região é grave, havendo falta d´água para consumo em algumas comunidades e dificuldade de conduzir a agricultura em praticamente todas elas.
Viveiro próprio
Cansadas de esperar uma ação efetiva do Estado na reversão do estado de degradação do território, as comunidades que realizam as Retomas de suas terras – e ainda lutam pelo reconhecimento formal, certificação e devida titulação – resolveram colocar a mão na massa e reconstruir a vida e a abundância de alimento e água que caracterizou a região, outrora coberta por densa e rica Mata Atlântica de Tabuleiro, antes da chegada dos “dentão” da Aracruz Celulose (Fibria) – tratores e correntes que derrubaram a mata densa para instalação de seu deserto verde voltado à exportação (exportação de celulose, água e, devido às isenções e incentivos fiscais, muitas divisas também).
Do viveiro da comunidade Angelim 2 vem boa parte das mudas, mas outras instituições também colaboram. Essa mobilização de parceiros – de norte a sul do estado – é uma das contribuições da Ong ao processo autônomo das comunidades, explica Gestor de Projetos da APTA, Milton Alves de Souza Netto. “A gente participa com assessoria técnica, mudas e mobilização de outras comunidades”, conta.
“Se não ajuda, pelo menos não atrapalha”
O Poder Público foi convidado a colaborar, mas nessa primeira tentativa, apenas colocou dificuldades, com uma exigência, por parte do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) de um mapeamento das nascentes antes do trabalho prático, mas sem oferecer qualquer contribuição nesse sentido. Geovani Merellis, da equipe técnica da APTA, reclama que o órgão chegou ao ponto de ameaçar proibir o trabalho, que estaria irregular, sem o tal estudo. “Numa próxima reunião a gente vai se posicionar melhor e voltar a pedir apoio”, pondera.
O último mutirão aconteceu no início de abril, no Morro da Onça, onde surpreendeu a grande quantidade de acácias, espécie invasora que se alastra em áreas degradadas, sendo difícil sua retirada para plantios de espécies nativas. O próximo mutirão de recuperação das nascentes do Sapê do Norte será no dia 10 de junho, em Olho d´Água, próximo a Santana, em Conceição da Barra.