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Enquanto famílias limpam o IAPI, polícia faz avaliação de risco para cumprir reintegração de posse

Fotos: Leonardo Sá/Porã

Três integrantes da Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp) vistoriaram na tarde desta terça-feira (6) o prédio do antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI) para elaborar um relatório de avaliação de risco. O documento vai traçar estratégias para o cumprimento da ordem de reintegração de posse do imóvel, que, expedida semana passada, ainda não tem data para acontecer.

 
A Ocupação Chico Prego, que ocupa com cerca o imóvel com cerca de 150 famílias, entrou com uma Ação Civil Pública para suspender a decisão da Justiça Federal. A ação é assinada pelas defensorias públicas da União e do Estado. A ação cobra também, entre outras medidas, a efetivação do direito de moradia digna às famílias e a destinação do prédio do IAPI para projetos de moradia de interesse social, por meio do Programa Minha, Casa Minha Vida. 
 
Se a reintegração for efetivada, a União vai reaver um imóvel em condições mais decentes do que o símbolo de abandono que a ocupação encontrou há exatamente um mês, em 6 de maio, quando chegou ao local. 
 
Na tarde desta quarta, as famílias concluíam a limpeza do 11° andar – o penúltimo – e iniciavam a ocupação dos cômodos. Com o filho de três anos no colo, a dona de casa Rozinanda dos Santos (foto acima), 27, arrumava seu único bem no cômodo amplo e vazio: um colchão de solteiro. A baiana de Arataca (a 60Km de Itabuna) chegou em Vitória aos 16 anos em busca de serviço, na esteira da tia que morava em Andorinhas. 
 
Hoje, a desempregada deve R$ 600 de aluguel, equivalente a três meses, da casa em que morava, em Santa Martha. “A minha esperança é ter uma casa. O resto a gente consegue”, diz. 
 
Em contraste com o trabalho e esforço conjuntos dos primeiros dias, nota-se agora certa tranquilidade nos demais andares. Aquele prédio dominado por poeira e entulho virou um local de moradia minimamente digno. Não apenas as geladeiras, fogões e camas dos cômodos revigoram o espaço. Os pequenos detalhes de tapetes, vasos de planta, livros sobre o criado mudo e rádios ligados conferem certa cor e alma à ocupação. 
 

Enquanto João Mineiro e Marciano cantam Aline na rádio (“E eu chorei/choreeeeei”) o pedreiro Evandro Souza (foto acima) explica como ele, a tia e os dois primos dormem na pequena sala. “A minha tia e o primo mais novo na cama. E eu e o outro no chão”. A cama de casa foi instalada perto da janela, de onde sopra uma brisa leve. Ao lado ficam a geladeira e o fogão desligados. 

 
A família trocou um acanhada residência de dois cômodos em São Pedro V pelo IAPI. A tia dormia no quarto e os demais na cozinha ao aluguel de R$ 450. “Se eu sair daqui, eu não tenho para onde ir”, diz.
 
Em outo andar, uma senhora vive com cinco crianças em uma sala um pouco maior, com dois cômodos e um banheiro. Em um, uma cortina improvisada separa sala e cozinha. O outro é ocupado por um beliche de um lado e uma cama de casal do outro, em frente da qual repousa uma cômoda. A senhora morava de aluguel em São Pedro e, como a maioria ali, não tem emprego. A ocupação virou um refúgio seguro.
 

O mesmo trabalho e esforço conjuntos aliviou a imagem mais repugnante do IAPI, uma prova incontestável de abandono do poder público. Com o auxílio de uma bomba, a piscina imunda de água parada na garagem subterrânea foi drenada e conduzida com mangueiras grossas para os bueiros da calçada do prédio. A água cedeu cerca de três metros. 

 
A situação ainda é lastimável, no entanto menos por culpa da ocupação do que por omissão da própria proprietária do imóvel, a União.

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