Na região de Urussuquara e Barra Seca, entre Linhares e São Mateus, a primeira mortandade aconteceu em janeiro de 2016, quando um vento sul extemporâneo trouxe a primeira “onda” de destruição, sendo necessário até interditar a praia de Pontal do Ipiranga, lotada de turistas, devido ao feriado do Ano Novo. “Morreram mais de um milhão de aplysias”, relembra a pescadora Eliane Balke, também militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Essa última iniciou logo após a última abertura da boca da barra, segunda-feira (5), a pedido de pescadores de camarão, que precisam ter acesso ao rio para passar sua “rede de balão”, como é conhecida a arte de pesca mais usada para captura dos camarões. “O mar está jogando muita lama. Nunca tinha visto tanta lama assim”, assusta-se a pescadora local Isolina Machado Neves.
Nessa quarta-feira (7), Isolina conta que presenciou pessoas passando a rede e coletando os peixes agonizantes, para comer e vender. “Acho um risco pra população”, alarma-se a pescadora, que guardou alguns exemplares no freezer, para o caso de alguém poder fazer uma análise em laboratório.
Eliane conta que, devido à estiagem, quando a boca da barra é aberta, o mar adentra o rio por cinco quilômetros, às vezes dez. E, desde que a lama chegou, as mortandades sempre acontecem, vitimando animais e vegetação, incluindo a taboa. “Ficam nítidas as manchas de lama na areia e na água”, diz. O fundo do rio, que era de areia, agora é lama. “Você anda no rio e pisa na lama, que está sedimentada. E quando a maré invade, levanta essa lama, além de trazer a lama que está no mar também”, explica.
Os peixes de rio não existem mais no Ipiranga, relata Eliane. Para começar a ver alguma espécie de água doce, é preciso subir o rio por cerca de 15 km. “Um colega chegou até a altura da Reserva de Sooretama e viu algumas cumbacas”, conta a ativista.