A noção de um cinema dividido em dois campos opostos, irreconciliáveis e complementares – o documentário e a ficção, fundados, respectivamente, pelos irmãos Lumière e por Georges Méliès, parece enganosa e não consegue explicar os limites entre esses dois gêneros audiovisuais.
Será para discutir e conhecer as possibilidades de criação do documentário enquanto narrativa cinematográfica que, entre os próximos dias 03 e 07 de julho, acontece a Mostra Documentos Autorais, no Cine Jardins, em Vitória. Durante uma semana, serão exibidos 12 documentários de oito países diferentes. A maioria ainda não chegou no circuito nacional de festivais e será exibida pela primeira vez no Brasil durante a Mostra. A entrada é franca.
Quem assina a seleção desse panorama internacional do documentário contemporâneo é Gonzalo de Pedro, membro da equipe de programação do Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça e diretor artístico do Festival Margenes.org, dedicado ao gênero. Fazem parte da programação filmes de longa e de curta duração produzidos entre 2014 e 2016 e vindos do México, Canadá, Espanha, Chile, Equador, Bolívia, Bósnia e Brasil.
A principal intenção da Mostra, segundo seus idealizadores, Alberto Greciano e Ursula Dart, é, além de ampliar o acesso do público local a estas obras inéditas por aqui, é contribuir com uma reflexão sobre as possibilidades criativas da linguagem audiovisual e sobre o fazer documental na contemporaneidade.
Nem o documentário foi desde suas origens uma observação pura, talvez ele não foi até mesmo uma observação, assim como nem a ficção sempre foi impermeável à realidade, e ambos os gêneros têm afirmado por complexas e constantes mudanças.
É neste cenário de pesquisa e interrogações acerca do conceito do documentário que a Mostra Documentos Autorais quer discutir a produção de filmes do gênero documentário, principalmente, o do documentário contemporâneo. A seleção de obras em exibição dará ênfase ao papel do autor nos documentários, aos seus pontos de vista diante de uma realidade e que, para tal, ele livremente acessa recursos tanto da ficção, da animação e quaisquer outros que caibam no audiovisual.
PROGRAMAÇÃO
SEGUNDA-FEIRA (3)
19H
Historias de dos que soñaron (México/Canadá, 2016, 86’, 14 anos) Direção: Nicolás Pereda e Andrea Bussmann. Em um complexo habitacional em Toronto, uma enorme serpente escapa e não é encontrada, uma criança que vira pássaro, um cachorro abandonado é fechado em um apartamento, um incêndio destrói todo um andar de um dos edifícios. Com estes vários relatos, o filme aprofunda o tema da representação e da autorrepresentação. Principais festivais: Grande Prêmio no Festival Internacional de Cinema de Marseille (França) e Prêmio de Melhor Filme Iberoamericano no 21o Festival de Cine Internacional de Ourense (Espanha).
New Madrid (Espanha, 2016, 10’, Livre) Direção: de Natalia Marín Sancho. É um ensaio experimental sobre as cidades construídas como simulacro e sobre a utopia fracassada resultado da investigação de 8 povos chamados Madrid nos Estados Unidos. Principais festivais: Sitges Festival Cinema Fantástico de Cataluña (Espanha), Sevilla Festival de Cine Europeu (Espanha).
21H
Mais do que eu possa me reconhecer (Brasil, 2015, 72’, 14 anos) Direção: de Allan Ribeiro. Uma solidão de oitocentos metros quadrados, em que o espelho já não lhe basta. Um artista plástico descobre na videoarte uma companheira inseparável. Darel não gosta de fazer cinema. Principais festivais: 48° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 39° Mostra Internacional de São Paulo, Melhor Filme no 18° Mostra Tiradentes 2015.
Satan Satie (Brasil, 2014, 34’, 14 anos) Direção: Juruna Mallon e Lucas Parente. “Um conquistador, de tempos em tempos, indomável, desola um canto do mundo e desaparece. Será o Diabo?”. Inspirado nos desenhos, escritos e músicas do compositor Erik Satie. Principais festivais: VII Semana dos Realizadores (2015), Visions du Réel – Festival de Cinema de Nyon (2016), 18o. Festival de Curtas de Belo Horizonte (2016).
TERÇA-FEIRA (4)
19H
O que me motiva II (Chile, 2016, 86’, Livre) Direção: Ignacio Aguero. Há mais ou menos 30 anos, o diretor Ignacio Aguero filmou Como me da la gana, um filme em que interrompia as filmagem dos que estavam filmando neste tempo para perguntar sobre o sentido de fazer cinema durante a ditadura. Hoje, quando os filmes chilenos se produzem em grande quantidade e circulam com êxito em festivais de cinema, o diretor interrompe as filmagens para perguntar acerca do que está sendo filmado o que é propriamente cinematográfico enquanto o próprio Ignacio toma suas notas acerca do que é cinematográfico. Principais festivais: Grande Prêmio no Festival Internacional de Cinema de Marseille (França) e Prêmio de Melhor Filme Iberoamericano no 21o Festival de Cine Internacional de Ourense (Espanha).
21H
Território (Equador, 2016, 66’, Livre) Direção: Alexandra Cuesta. Filmado no Equador, a viagem começa no Oceano atravessa as montanhas e desce na selva. Uma experiência atemporal a partir de imagens de pessoas e paisagens. Principais festivais: 28° Festival International de Cinema de Marseille (França), Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental, Brasil
A casa cinza e as montanhas verdes (Brasil, 2016, 16’, Livre) Direção: de Deborah Viegas. Um olhar atento à natureza. Principais festivais: 27° Festival Internacional de Curtas de São Paulo, 5° Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
QUARTA-FEIRA (5)
19H
Todas as cidades do norte (Bósnia, 2016, 100’, 14 anos) Direção: Dane Komljlen. Boban e Boris vivem dentro de um conjunto de bangalôs abandonados. Alguém mais entra neste espaço isolado e seus padrões são perturbados. O mundo fora chega e traz histórias de outros tempos, de cidades ao norte e ao sul, de como algo é feito. O amor pode ser frágil quando não é dado um nome. Não, não me chame de “camarada”. O que devo chamá-lo, então?. Principais festivais: Festival Internacional de Locarno (Suíça), Festival de Cinema de Nova York, Festival Internacional de Cinema de Rotterdam (Países Baixos), Festival de Cinema de Hong Kong.
QUINTA-FEIRA (6)
19H
África 815 (Espanha, 2014, 66’, 14 anos) Direção: Pilar Monsell. A diretora mergulha nos arquivos fotográficos e nos diários do pai dela, sobre a experiência dele durante o serviço militar na colônia espanhola do Saara em 1964. Pilar decobre o paraíso perdido em que o pai dela sempre tentaria voltar. Principais festivais: Festival Margenes (Espanha), Cinema du Réel (França).
ECO (Espanha, 2015, 20’, 14 anos) Direção: Xacio Baño. José e sua namorada estão desmantelando a casa de seus pais. Marcas nas paredes, caixas de memórias. Trinta anos para construir uma vida e dois dias para remover. Sacudindo os tapetes, a poeira invade a casa. Principais festivais: 68° Festival Internacional de Cinema de Locarno (Suíça), XII Festival de Cinema Europeu de Sevilla (Espanha), 18° Bafici – Buenos Aires Festival de Cine Independente (Argentina)
SEXTA-FEIRA (7)
19H
Viejo Calavera (Bolívia, 2016, 88’, 14 anos) Direção: de Kiro Russo. O pai de Elder faleceu. Sem ninguém, ele vai morar com sua avó nos arredores da cidade mineira, Huanuni, onde Francisco, seu padrinho, dá-lhe um emprego na mina. Elder logo descobre um segredo sobre o envolvimento de Francisco com a morte de seu pai. Festival Internacional de Singapura, Festival de Cinema de Jeonju (Coréia do Sul), Festival de Cinema de Locarno (Suíça).
Muerte Blanca (Chile, 2014, 17’, 14 anos) Direção: Roberto Collío. Um passeio fantasmagórico entre os vestígios de uma história em que quarenta e quatro jovens soldados e um sargento foram empurrados para suas mortes na região montanhosa de Antuco. Principais festivais: Festival de Cinema de Locarno (Suíça), 57° DoK Leipzig – Festival Internacional de Curtas Documentários (Alemanha), 22° Ozu Festival de Cinema (Itália)
Serviço
A Mostra Documentos Autorais acontece entre os dias 3 e 7 de julho no Cine Jardins. Rua Carlos Eduardo Monteiro de Lemos, 120, Shopping Jardins, Jardim da Penha, Vitória. Gratuito. Mais informações na página da mostra no Facebook.