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Mosteiro Zen Budista difunde a ‘cultura do bambu’ no Espírito Santo

“O bambu é o futuro do Espírito Santo”. Essa é uma certeza que se fortalece em Daiju Bitti, abade do Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem, em Ibiraçu, à medida em que ele vê a sua mensagem sendo bem recebida por todos – prefeitos, agricultores, lideranças políticas e religiosas do norte e noroeste do estado. “Falei a palavra bambu e ela ecoou dentro de todo mundo”, admira-se.

Pouco antes de nos receber para esta entrevista, Daiju Bitti almoçava com o Bispo Emérito da Diocese de Colatina, Dom Décio Sossai Zandonade, tendo como prato principal da conversa, exatamente, a implementação do bambu na região. Ambientalistas e a imprensa local e nacional, também brilham os olhos quando ouvem o abade profetizar o futuro glorioso da poderosa gramínea no Espírito Santo.

As prefeituras de Montanha, Mucurici, Ponto Belo e Pinheiros já discutem, juntas, como cultivar o bambu em escala comercial e utilizá-lo com matéria-prima na arquitetura e na movelaria, promovendo trabalho, renda e recuperação ambiental.

Pinheiros, por exemplo, já tem verba reservada para a construção do primeiro prédio público capixaba com bambu, um centro de educação ambiental. Já Ibiraçu, endereço do Mosteiro Zen, planeja seu mercado municipal utilizando o bambu. E por aí vai.

Em outubro, a comitiva de prefeitos visitará o Instituto Jatobá, em São Paulo, onde uma fazenda modelo estuda na prática a aplicação de várias técnicas de cultivo e utilização da planta. E em 2018, a visita será “mais robusta”, com destino à Colômbia.

O país é a principal referência em bambu na América Latina, com galpões, casas populares, centros de convenções e viadutos feitos a partir da fantástica planta. Daiju Bitti observou que lá os plantios são feitos em consórcio com o café e também muito em nascentes e beiradas de rios, como forma de recuperação do solo e recursos hídricos. “O bambu faz um alcochoado no solo, retém água”, explica.

Sustentabilidade

Os bambus preferidos dos colombianos são da família Guadua, que, apesar de ser original da Amazônia, tem se mostrado perfeitamente adaptado à Mata Atlântica. O Mosteiro já recebeu 300 mudas, que foram distribuídas para 60 agricultores de Ibiraçú. Uma medida simbólica, uma gota diante do oceano de possibilidades que se vislumbra para os próximos anos.

Em suas projeções, o monge vê o Brasil e o Espírito Santo expandindo os horizontes de aplicação do bambu, hoje, ainda muito limitado à escora de tomate, à cerquinha provisória, à barraquinha improvisada.

Os olhos do abade – e também do bispo, dos prefeitos, dos ambientalistas, dos agricultores – se voltam para grandes estruturas de bambu, para a indústria moveleira, como a de Linhares, para a arquitetura em geral. “Alguns dos arquitetos mais importantes do mundo são colombianos e trabalham com bambu. Há obras monumentais em todo o planeta”, contempla.

Em 30 anos, anuncia Daiju, o bambu vai ocupar lugar de destaque nos trópicos, em substituição ao ferro e à madeira, com poder de reduzir os impactos desastrosos da extração de minério, do desmatamento e dos monocultivos insustentáveis.

Charme e durabilidade

Além de recuperarem o solo e as águas, os bambus ocupam menos espaço nos plantios e concorrem com a madeira em produtividade e massa aproveitável. Com cinco anos, já atingem o ponto de corte, do alto de seus trinta metros de altura, em média. E a versatilidade é muito maior do que a de qualquer madeira comercial da atualidade. “O charme e a durabilidade são indiscutíveis”, afirma.

A arquitetura oriental, por exemplo, onde o Mosteiro Zen se inspira, tem no bambu um aliado insubstituível. No Japão, são comuns os beirais de sete metros, bem maiores do que os poucos centímetros no Brasil. Em Ibiraçu, a adaptação arquitetônica adotou beirais de 1,5m a 2m, que funcionam muito melhor com o bambu. “Madeira comum entorta. A resistência mecânica do bambu é superior”, atesta.

Em boa parte dos países orientais, o bambu é considerado uma planta de proteção espiritual, sendo comuns moitas de bambus nas entradas de templos e residências, além de pequenos vasos, com espécies ornamentais e de menor porte – há espécie que alcançam apenas 30cm de altura – que protegem e embelezam os interiores.

Essa atmosfera de sustentabilidade, espiritualidade, beleza e prosperidade econômica que brotam do bambu sempre estiveram presentes na vida do Mosteiro Zen Morro da Vargem, mas seu Abade reconhece que nos últimos três anos, “um conjunto de boas coincidências foram acontecendo” e o bambu passou a ser uma ideia constante, uma busca ativa por implementação.

“O Mosteiro sempre foi isso, esse polo de educação ambiental e espiritualidade”, conta o monge. E agora, complementa, tem no bambu um “garoto-propaganda” de peso para expandir esses valores e essa cultura de sustentabilidade.

Que assim seja!

Gashô!

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