A proposta do Fórum foi por uma reunião ampla, com todos os atingidos, no local onde o Fórum foi criado, no dia seis de setembro de 2016, no Centro de Convivência de Campo Grande, em São Mateus. Uma das reuniões de fato ocorrerá lá, na quinta-feira (10), reunindo também os atingidos de São Miguel, Fazenda Ponta, Urusuquara, Barra Seca e Pontal do Ipiranga. Mas a empresa acabou por realizar outras duas, uma nesta terça-feira (8), reunindo Nativo, Gameleira e Ferrugem, e uma última na sexta-feira (11) com os atingidos de Barra Nova Sul e Barra Nova Norte.
Não bastasse essa desarticulação, a empresa de consultoria, Sinergia, insiste que Urussuquara, Barra Seca e Pontal do Ipiranga não estão convidadas para essa rodada de reuniões. As duas primeiras, porque o cadastramento já teria sido iniciado no mês passado, e Pontal, porque já foi feito um cadastro.
Os atingidos, no entanto, afirma a pescadora, ignoram essa posição e se farão presentes, pois não confiam na forma como Urussuquara e Barra Seca estão sendo atendidas e afirmam que em Pontal houve um cadastro emergencial e superficial, durante o período em que a praia ficou interditada no réveillon de 2016, após forte vento sul, que levou, pela primeira vez em grande quantidade, a lama de rejeitos para a localidade.
Atingidos mantém a união
Pedro Ribeiro Clarindo, presidente da Associação de Catadores de Caranguejos e Assemelhados de Nativo, Gameleira e Ponta (ACCANGAP), diz que, além de ciceronear a primeira reunião, em Nativo, fará todo o esforço para estar presente nas outras comunidades, fortalecendo a união de todos os atingidos. ““Eu vou na quinta-feira também nem que seja de bicicleta”, afirma. “Represento uma classe de pescadores, se faz necessária a minha presença, mesmo que a condição financeira não permita, estou desempregado”, pondera.
Em sua humildade e grandeza, Pedro acredita de que as grandes decisões, reivindicações e deliberações devem ser tomadas pelos órgãos que os apoiam, como a Defensoria e o Ministério Público, mas sabe que o atingido deve estar presente, apesar das dificuldades de deslocamento.
“O que nós temos pra falar é o que a gente 'tá' sentindo na pele, o que estamos vivendo. A situação 'tá' difícil: muitas coisas que a gente tinha, não tem mais e está ficando cada vez pior. Vai pro mangue, não encontra nada. E quanto encontra, ninguém quer comprar”, relata. “ Em 49 anos morando aqui, nunca vi o mangue morrendo desse jeito”, lamenta.
Mau cheiro domina a região
A pescadora Silvia Lafaiete Pires de São Miguel, é ainda mais explícita em seu relato: “Nós estamos pedindo socorro. Não temos nada pra pescar, pra comer. A minha vida era o rio. Levantava quatro horas da manhã pra poder pescar. Hoje 'tá' tudo poluído, tudo morto. Acabou tudo. Acabou o rio, acabou a minha vida”, clama.
A penúria dos pescadores enfraquece também suas representações jurídicas. As associações passam por muita dificuldade para continuar funcionando. “Agora saiu essa determinação do governo federal, de mudar os estatutos das associações. Mas ninguém aqui tem dinheiro pra isso”.
Em Campo Grande, a associação amarga uma dívida de R$ 40 mil contraída após o Festival do Caranguejo, realizado em maio, sem qualquer apoio do poder público ou da Renova, fundação da Samarco/Vale-BHP responsável por negociar as indenizações aos atingidos. Nem comprando os caranguejos na Bahia, conseguiram vender, devido à desconfiança dos consumidores. O Festival do Camarão, marcado para setembro, pode ter o mesmo fim.
Na mortandade de peixes e mariscos desse fim de semana, o cheiro de morte, vindo das carcaças dos animais e da água vermelho/alaranjada pela lama, espalha a tristeza, a revolta e o desespero na atmosfera da região. “Toda vez que os pescadores chegam no mar ou no rio e não veem nada … com fome, sem nada na geladeira … é muito triste”, conta Eliane.