O líder comunitário José Geraldo Lazzarini (foto), do bairro de Ulisses Guimarães, em Vila Velha, sofreu mais um atentado na tarde desta terça-feira (22). Ele é responsável por denunciar agressões ambientais a um córrego no bairro, que estava sendo aterrado ilegalmente por uma empresa com licença apenas para atividade de pátio de estocagem, armazém ou depósito de material de construção.
Desta vez, a mulher de Lazzarini quase foi vítima do atentado. O casal estava plantando nos fundos de sua casa, quando tiros foram disparados contra eles de um terreno baldio que fica ao lado. Um deles, segundo o líder comunitário, passou perto da cabeça de sua mulher. Os tiros teriam sido disparados por dois adolescentes, que fugiram após o feito.
Pouco depois, no entanto, Lazzarini teria visto os mesmos adolescentes no entorno de sua casa. Recomendado pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Vila Velha (CDDH-VV), o morador registrou o ocorrido na polícia.
Lazarini é coordenador do Fórum de Desenvolvimento Social e Econômico da Região 5 de Vila Velha, entidade fundada há 10 anos, responsável por discutir problemas dos 22 bairros e 13 comunidades rurais, como educação, segurança, saúde e o meio ambiente.
Na noite desta quinta-feira (24), o Fórum Popular em Defesa de Vila Velha vai fazer uma reunião em que, dentre outros pontos, debaterá o caso de Lazzarini e o mais novo atentado sofrido pelo importante líder comunitário. Segundo uma das porta-vozes do fórum, é certo que a entidade vai fazer uma cobrança ao Ministério Público Estadual (MPES) e à Secretaria de Segurança do município para que os órgãos finalmente investiguem o caso.
Lazzarini afirma que tem a intenção de produzir um relatório em que constem todos os casos de atentado que já sofreu desde que denunciou a degradação ambiental em seu bairro, também no sentido da cobrança por uma investigação.
Ameaçado
E não é por acaso. A recente histórica do líder comunitário é marcada pela omissão do poder público, mesmo com os repetidos casos de violência. A denúncia de um aterro ilegal feita por José Geraldo Lazarini virou caso de polícia em outubro de 2011, quando ele denunciou o aterro de um córrego pela empresa registrada no nome de Dailton Perim, de CNPJ 450141837-00, sem licença para realizar o aterro.
Hoje, a obra está embargada, mas Lazzarini conta que isso não adianta nada: o córrego já foi completamente aterrado.
Uma representante do Fórum Popular em Defesa de Vila Velha levanta a voz contra o poder público neste caso. “Nunca foi feita uma investigação sobre isso”, critica. “Ele não pode ter como única opção sair de sua casa por causa da omissão das autoridades”.
Lazzarini está sob constante ameaça e entrou no Programa de Proteção do CDDH após sofrer diversos atentados. Segundo informações, alguns de seus “perseguidores” são ex-funcionários da obra embargada.
Em 30 de abril de 2012, quase se tornou vítima em um caso parecido com o desta terça-feira, quando também atiraram contra ele. Já em 27 de setembro do mesmo ano, sua casa foi alvo de uma salva de tiros exatamente quando estava sendo realizada no local uma reunião entre a comunidade para debater o dano ambiental da obra de aterro.
Em agosto do ano passado, bombas de fabricação caseira foram lançadas contra o seu portão e pedras foram jogadas contra a sua moto, quando dirigia pelo bairro.
Já em fevereiro de 2012, Lazzarini acordou de madrugada com sua casa sendo apedrejada e, assustado, disparou com uma arma de fogo para cima, na tentativa de espantar os agressores. Na ocasião, Lazzarini foi preso, sendo solto 28 dias depois.
Além disso, a fiação elétrica de sua casa já foi roubada.