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‘Revitalização’ da Praça do Cauê era puro engodo

Bem que estava estranho aquele papo florido de revitalização da Praça do Cauê que a gestão Luciano Rezende (PPS) encenava sobre os muros e gradis demolidos para “devolver o local à comunidade”. Em lives sorridentes no Facebook, o prefeito celebrou helenicamente as obras como se falasse não de Vitória, mas da Grécia Antiga: “Nós estamos fazendo aquilo que nos comprometemos com a cidade de Vitória. Fazer uma cidade cada vez mais justa, humana, feliz, cada vez mais ocupada pelas famílias”.
 
O humanismo de Luciano Rezende foi revelado nesta sexta-feira (25) em A Gazeta: a Prefeitura de Vitória mantém a intenção de executar projetos de engenharia da Idade Média e entregar a Praça do Cauê aos carros. Tudo ainda depende de um estudo de viabilidade que vai dizer se vale a pena ou não realizar uma ligação direta entre a Reta da Penha e a Terceira Ponte.
 
No mínimo, falta transparência à Prefeitura de Vitória no trato do tema. Onde ficará esse carnaval de humanismo e boas intenções se amanhã o prefeito entregar uma praça dilacerada em duas? Para que revitalizar algo já condenado? Se a gestão Luciano Rezende quer cortar a praça, basta proferi-lo de forma clara e límpida, ao invés de ornar segundas intenções com eufemismos ensolarados. 
 
Talvez ser transparente seja um problema ainda maior que cortar a praça. 
 
 
A notícia divulgada nesta sexta deixa a impressão de que as recentes obras no Cauê são apenas para deixar menos dolorosa uma intervenção que, quando anunciada de forma mais crua e direta, em 2013 (foto acima), foi mal recebida. O projeto de fatiar a praça, apresentado com o mesmo verniz de revitalização, recebeu franca rejeição de moradores, temerosos de possível piora na qualidade de vida com a intensificação do fluxo veicular.
 
Ninguém nega que o sistema viário de Vitória atingiu um patamar sofrível, mas daí a trocar um espaço de convivência pelo fluxo do transporte motorizado vai uma distância – ainda mais um equipamento histórico como a Praça Cristovão Jacques, um remate estético ao tédio linear da Reta da Penha previsto na utopia urbana do Novo Arrabalde, de Saturnino de Brito, lançado em 1896.  
 
Na abertura do Encontro da Cidade, realizado no último dia 14, para votar propostas à minuta do novo Plano Diretor Urbano (PDU), Luciano Rezende mimoseou a audiência com uma definição elegante da política deste século: “O que a gente está vendo é o fim do modo político do século XX. A política do século XXI é uma política em rede, compartilhada”.
 
Luciano olha para o futuro, mas segue flertando com o passado. Falando em PDU, a proposta para a Praça do Cauê também confronta o discurso do plano, que é pela qualidade de vida. A minuta, por exemplo, resguarda a visada dos morros, patrimônios naturais da cidade. Uma contradição insondável. Agora é aguardar a prefeitura discutir a proposta de cortar a praça com os moradores.

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