O governador Paulo Hartung (PMDB) está mostrando que sabe, como ninguém, tirar proveito desta crise aguda que o País atravessa. Lá atrás, em 2015, logo que iniciou seu terceiro mandato, ele fez a leitura do cenário político numa velocidade impressionante, superando lideranças locais e nacionais ao transformar o Espírito Santo num caso de sucesso: o Estado que desenvolveu a receita para vencer a crise.
Ao mesmo tempo em que martelava a narrativa do ajuste fiscal, PH conquistava espaço na grande mídia nacional, sendo cortejado pelos formadores de opinião, sobretudo do mercado econômico, como o governador que empreendeu um modelo de gestão fiscal severo, capaz de dar um nó na crise.
A cereja do bolo veio com a entrevista de Joaquim Barbosa ao jornal Valor Econômico (01/09/17). O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que é considerado uma das raras reservas morais deste País, afirmou que, caso decida entrar na política, só o faria na companhia de um homem como Hartung, abrindo assim a possibilidade de compor uma chapa à Presidência da República com o governador capixaba na vice.
O afago de Barbosa, obviamente, está sendo comemorado por PH até agora. Ele vai tirar proveito máximo desse elogio. O problema desta suposta parceria é a posição que está sendo oferecida a PH. Não sei se ele é homem de assumir o papel de coadjuvante. Mesmo sendo numa chapa à Presidência, isso não deixa de ser um papel diferente do qual ele está acostumado a exercer, que é o de comando, de protagonista.
Apesar da repercussão que a classe política está dando a essa incipiente parceria Barbosa-PH, sigo apostando que o governador segue sendo candidato à reeleição. Ninguém sabe onde esta história com Barbosa vai parar, mas é certo que PH vai tirar dela o que puder.
Já escalou o deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) na Assembleia e alguns interlocutores palacianos para repercutir para dentro do Estado a virtual chapa com Barbosa. Enivaldo já pediu a união de toda a classe política em torno do projeto Barbosa-PH, destacando que está é uma chance única para o Espírito Santo entrar definitivamente no mapa político do Brasil.
Há uma estratégia por trás dessa movimentação interna. Vamos supor que essa aliança com Barbosa não avance. Amanhã, o ex-ministro pode acordar é dizer simplesmente que a política não é para ele e tirar o time de campo. PH, de qualquer maneira, já terá tirado os dividendos dessa história. Se isso acontecer, a reflexão que fica é a seguinte: “O Espírito Santo tem o privilégio de ter como governador um homem que estava sendo cotado para ser vice-presidente da República”.
As condições estariam criadas para o “Fica, Paulo Hartung”. Se isso acontecer, virtuais candidatos ao governo como a senadora Rose de Freitas (PMDB) e o ex-governador Renato Casagrande (PSB) passam a ter suas chances bem reduzidas de enfrentá-lo de igual para igual.
Essa é sem dúvida uma jogada espetacular de PH, dentro desse ambicioso projeto de ser reeleito nos braços do povo. O quarto mandato, nessas condições, pavimentaria seu caminho ao Senado, sem solavancos, em 2022, quando a Casa abre somente uma cadeira, tornando a disputa mais acirrada.
Esse cenário parece, por ora, bem favorável a PH, especialmente porque não há ninguém no campo se movimentando contra o seu governo, que segue incólume.
É um governante que está sendo laureado por este pequeno Espírito Santo, que nunca imaginou que pudesse sonhar em alçar um representante numa posição tão importante.
Deslumbramento dos mais entusiasmados à parte, insisto que PH é candidato à reeleição. Mas não a qualquer reeleição. Ele quer ser aclamado desta vez, quer que a população lhe peça bênção.