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Ticumbi renova-se para manter a tradição

Enio Ardohain (especial para Século Diário)
 
A semana foi decisiva para um dos grupos folclóricos mais tradicionais do Espírito Santo. O Baile de Congos de São Benedito comandado por mestre Tertolino Balbino, o Ticumbi de Mestre Terto, conquistou mais dois devotos para o cordão, retornando à formação original com 18 brincantes. Josielson Gomes dos Santos e João dos Santos Feliciano assumem as vagas deixadas por Manelão e Bibi, falecidos recentemente, demonstrando que a força da tradição quilombola no Sapê do Norte ainda é pujante e vibra com o vigor da fé e devoção ao santo negro.
 
 
Aos olhos de quem vê de fora, a substituição de dois pandeiristas parece coisa fácil e corriqueira, mas para entrar no cordão do Ticumbi de São Benedito das Piabas, o candidato tem que trazer na pele a memória do cativeiro e no sangue a realeza de famílias africanas que resistiram à escravidão nos quilombos de São Mateus e Conceição da Barra. 
 
Os dois foram apresentados ao grupo numa reunião festiva, bem ao gosto de São Benedito, com comida farta e a contagiante alegria da comunidade do Córrego do Alexandre, à margem esquerda do Rio Cricaré. 
 
João dos Santos Feliciano vem do tronco familiar dos Balbino. “Ele é filho de meu primo-irmão”, conta Mestre Terto. Tocador de violão e compositor ainda inédito, João mora em Conceição da Barra e acompanha o Baile de Congos de São Benedito à distância, sempre curioso sobre a manifestação cultural comandada por seus parentes. “Eu sempre assistia a passagem do cortejo no dia 31 de dezembro e ficava encantado com a beleza da brincadeira. Nunca imaginei que um dia fosse fazer parte do cordão. Fiquei muito honrado com o convite e espero corresponder às expectativas do mestre e de todos do grupo”, comentou.
 
Josielson Gomes dos Santos é aparentado de Quino e Ascendino, poetas populares e guardiões da espada do Secretário de Reis Congo. A família tradicional do Sapê do Norte é um dos principais esteios do Baile de Congos de São Benedito. Morador do Córrego da Onça, Josielson chega ao cordão cheio de expectativas e curiosidades. “Fiquei muito feliz com o convite. Essa é a devoção de meus antepassados e eu quero seguir com a tradição. Não entendo muito da brincadeira, mas já entendi que é uma coisa muito séria e que tenho muito pra aprender”, disse o novato na reunião de apresentação.
 
Transição
 
Mestre Tertolino Balbino ficou satisfeito com a chegada dos novos congos e a recomposição do cordão que, este ano, volta a ter o número máximo de brincantes. “Ano passado brincamos com 16. Este ano vamos brincar com 18, que é a quantidade certa”, comemorou o mestre. Ele salientou que os ensaios do grupo começam no primeiro sábado de outubro e seguem até o ensaio geral, que acontece sempre dia 30 de dezembro em alguma das propriedades rurais do Sapê do Norte. Além de integrar os novos brincantes, que ganharão lugar no cordão de acordo com as vozes, Terto ainda tem a difícil missão de conduzir a própria sucessão no comando do Baile.
 
Acometido por uma doença degenerativa que lhe está roubando a visão, Mestre Terto decidiu deixar a guia do cordão e transferir as responsabilidades de mestre para Berto Florentino, seu fiel contraguia, que deverá ficar com a incumbência de compor o Baile de Congos a partir de 2018. O de 2017 já está quase pronto, avisa Tertolino, antecipando que vem muita surpresa por aí. Quem for ao Ensaio Geral no Córrego do Alexandre, dia 30 de dezembro de 2017, ou à apresentação do Ticumbi na porta da Igreja de São Benedito, no trevo de Conceição da Barra, na manhã do dia 1º de janeiro de 2018, vai descobrir do que o mestre está falando. Vale a pena conferir.

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