Crimes de repercussão, por motivos fúteis e marcados por crueldade também tomaram conta do noticiário depois de fevereiro. Esses casos se exprimem no assassinato do secretário de Gerência de Itapemirim (região litoral sul), José Mauro Sales da Penha, morto por vingança pela servidora pública Carla Rogéria Ribeiro Lima, exonerada do cargo de diretora da Defesa Civil municipal poucos dias antes do crime.
Motivo fútil também caracterizou a morte dos irmãos Lucas Thera e Luérick Cera, em julho deste ano, em Ibiraçu, no norte do Estado. Eles foram mortos por um comerciante do município, em busca do dinheiro da venda de um veículo.
A morte da médica Milena Gottardi Tonini Frasson, baleada das dependências Hospital Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), o Hospital das Clínicas, nessa quinta-feira (14), é mais uma tragédia ocorrida mesmo com todos os apelos da sociedade por mais segurança, inclusive nas imediações do hospital, não raros os casos de assaltos no estacionamento em que a pediatra foi baleada. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de feminicídio, pela dinâmica do crime, que não condiz com uma tentativa de assalto.
Depois do movimento dos familiares de policiais militares, que paralisou o policiamento no mês de fevereiro, a redução dos homicídios após o período – foram mais de 200 somente no período da paralisação – se mostrou tímida.
Menos de dois meses depois do fim da paralisação, ocorreram duas execuções em menos de um mês em locais públicos e movimentados, sem a preocupação dos acusados em esconderem a identidade.
Em maio, um homem identificado como João Batista de Amorim foi executado por volta das 11 horas na Praia do Canto, em Vitória, um dos metros quadrados mais valorizados do Estado. Já no início do mês de abril, João Walbert Valério Pereira foi executado com 19 tiros na praça de alimentação do Shopping Boulevard, em Vila Velha, em uma noite de sábado, dia de intenso movimento no estabelecimento. O atirador não se preocupou em esconder o rosto e saiu tranquilamente.
Mesmo com os casos de mortes violentas, brutais e evitáveis, não há investimento na prevenção ou nos instrumentos para a elucidação desses crimes.
O Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol-ES) já apontou em diversas ocasiões que o quadro de deficiência na instituição é tão grande que os policiais têm de priorizar o atendimento de certas ocorrências, geralmente de crimes de grande repercussão, para serem investigados. Os crimes comuns, que atingem as camadas mais periféricas da população, ficam sem investigação.
A reestruturação da divisão de homicídios também é primordial para que haja o combate efetivo aos crimes violentos letais. O resultado dessa falta de investimentos também é o adoecimento do policial civil, que trabalha em desvio de função e sobrecarregado.