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Agricultura sintrópica se expande no Espírito Santo

Se a última grande seca que ainda assola o Espírito Santo trouxe algo de positivo, pode-se dizer que tem sido a expansão da Agroecologia e de sua “versão gourmet”, a Agricultura Sintrópica (AS). “Com a perda da cobertura natural da Mata Atlântica, as pessoas entenderem que algo diferente vai ter de começar a ser feito no solo, para voltar a ter água”, opina o engenheiro agrônomo Paulo Henrique Radaik, que ministrará mais um curso de Agricultura Sintrópica neste fim de semana (21 e 22), desta vez, em Barra de São Francisco, noroeste do Estado, na propriedade agroecológica do casal de camponeses e reikianos Carla de OIiveira Calaes Marim e Sergio Luiz Marim.

Sobre os vários conceitos similares em curso hoje – Agroecologia, Agricultura Orgânica (AO), Agricultura Sintrópica (AS), Permacultura, Agrofloresta – tem mesmo mais semelhanças que diferenças. Permacultura é um sistema de planejamento para a ciração de ambientes humanos sustentáveis (ou permanentes), seja no rural ou no urbano, e envolve agricultura, arquitetura, saneamento básico e reciclagem. A Agrofloresta é uma técnica que procura conciliar, num mesmo espaço, árvores e lavouras e é utilizada na Permacultura, na AO, na AS e na Agroecologia.

Entre essas três ultimas, as diferenças são bastante sutis, sendo que os adeptos da Agricultura Sintrópica e Agroecologia costumam enxergar ainda mais semelhanças entre si, enquanto a orgânica estaria mais voltada para o mercado, e estaria muito dependente de pacotes agronômicos, ainda que sem química e venenos, e aos onerosos selos de certificação e às exigências – pouco naturais – dos grandes supermercados, nacionais e internacionais. “Supermercado só quer aquele inhame redondinho, e quer o ano todo, numa quantidade que não dá”, reclama o agricultor orgânico Lorival Haese, de Santa Maria de Jetibá, ilustrando, na prática, a crítica que ele mesmo faz, mesmo sendo orgânico e certificado.

Já a AS e a Agroecologia, são, na prática, a mesma coisa, para boa parte dos agroecologistas capixabas. “Conheci o Ernst há uns anos atrás e falei pra ele que o que ele chamava de Sintropia pra gente é Agroecologia, é o que a gente já fazia e continua fazendo”, relata a agricultora Erenilda Ferreira Ghio, da Associação de Agricultores Familiares Agrecológicos e Orgânicos de Campinho (Vero Sapore), em Iconha, no sul do Estado. 

Larga escala

Em sua fala, Erenilda se refere a Ernst Götsch, agricultor e pesquisador suíço que criou o termo Agricultura Sintrópica e que se popularizou há pouco mais de dois anos, após a divulgação de seu trabalho na Fazenda da Toca, uma empresa que administra uma fazenda de produção orgânica com 2,3 mil hectares, no interior de São Paulo, administrada por Pedro Paulo Diniz, da família proprietária da rede de supermercados Grupo Pão de Açúcar.

Revolucionário ou não, o fato é que, sob o slogan “Colhendo sol para plantar água”, Ernst Götsch trouxe novo fôlego para o movimento que empreende transformações radicais nas formas de enxergar e lidar com a floresta, a produção de alimentos saudáveis, a conservação/recuperação do solo e da água, e com a convergência de todas as coisas em um mesmo espaço.

Em seu site oficial na internet, o agricultor suíço, residente e produtor de cacau no interior da Bahia há 40 anos, afirma que a AS trabalha com a recuperação pelo uso, com base no conceito de sintropia, criado por ele próprio, que seria um sistema que “caminha do simples para o complexo”, ao contrário da entropia, que caminha do complexo para o simples.

“Na Agricultura Sintrópica cova passa a ser berço, sementes passam a ser genes, a capina é a colheita, concorrência e competição dão lugar à cooperação e ao amor incondicional e as pragas são, na verdade, os agentes de fiscalização do sistema. Esses e outros termos não surgem por acaso, mas sim, derivam de uma mudança na própria forma de ver, interpretar e se relacionar com a natureza”, poetiza, em sua página eletrônica.

“Sintropia é agregar energia, disponibilizar energia. Entropia é perder energia. Estratégias que as família sempre usaram, que são Agroecologia, e hoje são chamadas de Sintropia”, observa Paulo Radaik, enfatizando que as técnicas sintrópicas do “papa” Ernst, na verdade, fazem parte da Agroecologia, esta, uma filosofia e uma ciência que abarca também uma visão e uma prática política de emancipação e fortalecimento da agricultura familiar.

Áreas de Inclusão Permanente (AIPs) de humanos

Polêmicas à parte, agroecologistas e sintrópicos comemoram a chegada do novo termo como uma alavanca que também tem ajudado a organizar as Organizações de Controle Social (OCSs). “Esse curso em Barra de São Francisco tem esse objetivo também”, conta Paulo, que incentiva a organizações de mutirões nas casas dos sócios das OCSs, como forma de resgatar a transparência e aumentar a confiança mútua entre os associados.

O objetivo secundário se explica pela forma com que as certificações de produção orgânica concedidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) por meio das OCSs acontece por meio de um sorteio, em que alguns produtores são escolhidos aleatoriamente para representar todo o grupo. Apenas eles são vistoriados pelo Mapa, o que barateia o processo. Ao invés de visitar 30 produtores, apenas três são vistoriados e os demais precisam prestar seu depoimento de que confiam no trabalho feito por seus então representantes frente ao Mapa.

E para dar esse atestado de confiança, os membros do grupo precisam estar sempre em contato, visitando-se mutuamente e realizando mutirões. “Cria um laço de confiança muito maior, resgata o ‘fio de bigode’”, metaforiza Paulo.

O crescimento da Agroecologia, Agricultura Sintrópica, Agricultura Orgânica, Permacultura e Agroflorestas, nessa “ressaca da seca”, independentemente das diferenças, constrói, gradativamente um sonho comum que, nas palavras de Ernst, é definido como o momento certo para “criarmos ‘áreas de inclusão permanente’ e não ‘áreas de proteção permanente contra os humanos. AIP!”, proclama.  

 

Serviço:

Curso: Agricultura Sintrópica, com engenheiro agrônomo Paulo Radaik

Data: 21 e 22 de outubro, de 8h às 16h

Local: Fazenda Bela Aurora, distrito de Santa Angélica, Barra de São Francisco-ES

Mais informações: 27-98112-2712 – Carla e Sergio 

 

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