Quais as fontes que contribuíram para esse aumento da poluição e quais providências foram tomadas pelos órgãos ambientais? A resposta para essas duas questões foi solicitada formalmente pela Juntos SOS Espírito Santo Ambiental nessa sexta-feira (20) ao Iema e à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam).
“É urgente uma ação dos órgãos ambientais”, protesta o presidente da Juntos SOS, Eraylton Moreschi Junior, para quem a ação dos órgãos ambientais consegue ser ainda pior do que a tecnologia adotada na Grande Vitória para monitoramento do pó preto.
O método de monitoramento consiste num balde que fica recebendo a poluição por trinta dias e depois de trinta dias, em média, é que se chega no resultado para aquele período. E o Iema e a Semmam são ainda piores na tomada de atitude frente ao problema, critica o presidente da Juntos SOS. “Os dados não são confiáveis”, denuncia.
70 mil mortes por ano
A situação, gravíssima, não é mais só “papo de ambientalista”. “A poluição do ar mata mais de 70 mil pessoas por ano no Brasil”, diz Eraylton, citando dados da reportagem publicada no Portal Terra nesta sexta-feira (20) sobre um estudo da revista científica The Lancet.
Entre as formas de poluição mais letais em território brasileiro no ano de 2015, segundo o estudo, a do ar é a principal, alcançado quase 70% do total de 101.739 mortes por poluição. Em seguida, vem a poluição no ambiente de trabalho – como fumo passivo –, atribuída a 18.512 mortes, da água (15.315) e do solo (10.592).
O estudo diz que o Brasil é um dos países melhor qualificados no ranking, estando na 12ª posição entre os que menos matam por poluição, num universo de 188 países. Os maiores índices foram registrados para Bangladesh, na Ásia, e Somália, na África.
Em nível mundial, a poluição é a causa de um em cada seis óbitos, sendo a poluição do ar a responsável por dois terços dos casos. A maioria das mortes é causada por doenças não infecciosas ligadas à poluição, como enfarto, derrame e câncer de pulmão.
Pulmões e coração cada vez mais doentes
O médico alergista José Carlos Perini, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia, em entrevista a este Século Diário em junho último, afirmou que a situação na Grande Vitória é mesmo muito grave. Não bastasse a defasagem da legislação nacional, que é sete vezes mais permissiva que a mundial, os órgãos locais de controle são absolutamente lenientes.
No ano passado, por exemplo, lembra o especialista, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos não mediu as emissões das indústrias no segundo semestre.
Apesar da justificativa oficial ter sido de ordem burocrática, que geraram atraso na contratação de uma nova empresa para fazer o serviço, o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia não titubeia em expor a causa mais provável: “Houve uma certa conivência”, afirma. Porque o período de agosto, setembro e outubro do ano passado foi extremamente seco, e, portanto, a poluição deve ter sido muito alta. Além disso, “a oitava usina de pelotização da Vale entrou em operação mais ou menos nessa fase e, nesse período de adaptação dos equipamentos, com certeza as emissões foram maiores”, desmascara.
O resultado é o adoecimento contínuo e gradativo da população, principalmente do sistema respiratório e cardiovascular. As partículas são tão pequenas, explica o médico, que passam pela corrente sanguínea. “Na corrente sanguínea, ela forma como uma adjuvante, agregando células e formando trombos, formando coágulos, que podem causar infartos. Tanto que há um aumento do infarto do miocárdio na região de Vitória que é acima da média de outras cidades brasileiras”, explica.
Sobre os efeitos que a exposição a longo prazo ao pó preto pode provocar na saúde da população, o médico explica que haverá uma população mais doente, porque as doenças pulmonares são cumulativas, provocam um remodelamento do pulmão e, com isso, um aumento das chamadas doenças pulmonares obstrutivas crônicas e um maior número de cardiopatias. “Se o pó preto vai trazer consequências para o futuro, vai! O quanto exatamente e quais ainda é uma incógnita”, afirma.
Vale e ArcelorMittal
O motivo da falta de exatidão, apesar da abundância de casos para estudos, é que, aqui, o assunto não é devidamente estudado. E “não há nenhum lugar no mundo em que haja um complexo que gera 600 milhões de toneladas de manejo dentro de uma microcomunidade como a nossa! Não existe nenhum parâmetro no mundo”, insiste.
A Juntos SOS tem feito, nos últimos anos, seguidos requerimentos por informações mais qualificadas por parte do Iema e da Semmam relativas à poluição por pó preto e outros poluentes. Bem como protestos, reunindo assinaturas da população contra os Termos de Compromisso Ambiental (TCAs) assinados com as poluidoras da Ponta de Tubarão – ArcelorMittal e Vale – instrumentos que deveriam ser substituídos por condicionantes nos processos de renovação das Licenças de Operação (LOs) das duas empresas.