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Por dentro da embalagem

Quem vem colecionando reportagens sobre Paulo Hartung nos últimos meses pode afirmar, sem pestanejar, que a avaliação da imprensa nacional à gestão do governador é positiva. Alguns jornalistas mais entusiasmados têm cravado que o peemedebista descobriu a equação que ensina a enfrentar e vencer a crise econômica brasileira.
 
Essa unanimidade, porém, prevaleceu até essa quinta-feira (23). Uma reportagem de fôlego de Luis Nassif (jornal GGN) quebrou a escrita. Numa espécie de “dossiê” do governador Paulo Hartung, o jornalista disseca os seus três mandatos e mostra que a gestão tão comemorada pela maioria dos colegas da imprensa nacional não passa de uma embalagem reluzente, mas oca por dentro. Em vez de tratar o ajuste fiscal como um caso de sucesso, Nassif afirma que Hartung vem sendo cevado pela Globo como exemplo de gestor moderno. Para o jornalista, Hartung não passa de “fiscalista inventado pela Globo”.
 
Nassif é o primeiro jornalista de projeção nacional a “desembrulhar” Hartung. Na reportagem, o jornalista decupa a trajetória do governador à frente do Estado em sete capítulos. Cada um desses blocos destaca episódios polêmicos envolvendo os seus dois primeiros governo (2003 a 2010) e o atual, que se encerra no final de 2018.
 
O detalhado conteúdo apresentado por Nassif não é novidade para Século Diário. O jornal vem fazendo uma cobertura sistemática dos fatos ao longo dos governos Hartung. Não por acaso, o jornalista faz citações a Século Diário. 
 
Embora a reportagem não apresente fatos inéditos para este jornal e para parte da população do Espírito Santo que acompanha mais atentamente a política capixaba, seu conteúdo é valioso para os leitores que conhecem o “produto Hartung” apenas pela embalagem. 
 
O “dossiê” é pedagógico ao traçar a linha do tempo dos episódios “suspeitos” da gestão do peemedebista. A farra dos incentivos fiscais (Invest-ES); as operações nebulosas da Éconos – empresa de Hartung e do seu ex-secretário da Fazenda José Teófilo que fazia consultoria a empresas que contratavam com o governo; as transações escusas da compra e venda de terrenos em Presidente Kennedy; os R$ 25 milhões que foram “enterrados” nas obras do Posto Fiscal de Mimoso do Sul, que sequer saiu da fase de terraplanagem; os mais de R$ 200 milhões que serão gastos para concluir as obras do Cais das Artes, que se tornou um elefante branco que se arrasta há quase oito anos na Enseada do Suá, Vitória; a “mansão secreta” em Pedra Azul (região serrana), que Hartung omitiu da sua declaração de patrimônio apresentada à Justiça Eleitoral nas eleições de 2014. 
 
Sem contar episódios mais recentes, como a doação (R$ 1 milhão), supostamente de “caixa 2”, que Hartung teria recebido da Odebrecht. A denúncia veio à tona no acordo de delação homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o ex-presidente de Infraestrutura da construtora Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior. O delator garantiu que repassou dinheiro para Hartung nas campanhas de 2010 e 2012. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acabou arquivando as citações contra o governador.
 
Todos esses casos foram alvos de reportagens de Século Diário. Apesar da cobertura sistemática, esses episódios foram caindo no esquecimento da sociedade. Ao fazer o compêndio desses e outros fatos, Nassif, pedagogicamente, ajuda desvelar outro Paulo Hartung, que muitos brasileiros ainda não conheciam e boa parte dos capixabas não se lembrava mais.

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