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População travesti prepara Dia Nacional da Visibilidade Trans

A população travesti e transexual é a que sofre mais violência dentro da população LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis e Transexuais. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2017, até o dia 24 de dezembro, 179 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, sete delas no Espírito Santo. Em 2018, nos dois primeiros dias do ano, já foram registrados mais dois assassinatos no país.

A coordenadora-presidenta da ong Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), Deborah Sabará, conta que o número parece pequeno, mas num universo de aproximadamente mil pessoas – estimativa da população trans capixaba – sete é um percentual elevadíssimo.  “Isso é o número de assassinatos, mas há as agressões dentro das escola, o bullyng, dentro dos ônibus, dos serviços de saúde …”, enumera a ativista.

Os dados disponíveis, afirma Deborah, apontam para o fato de que “a população de homens trans, mulheres travestis e transexuais ainda é a mais suscetível à violência, que se expressa através de injúrias, agressões físicas e psicológicas e assassinatos todos os dias”.

O Dia Nacional da Visibilidade Trans. 29 de janeiro, surgiu exatamente para diminuir o preconceito e, consequentemente a violência contra essa parcela da população. A data teve inicio em 2004, após a campanha Travesti e Respeito, do Ministério da Saúde.

Considerada a primeira ação contra a Transfobia, idealizada por ativistas travestis e transexuais, a campanha objetivou aumentar o acesso da população trans aos serviços públicos de saúde, permitindo que os homens trans e as mulheres travestis possam “se sentir bem ao frequentar o SUS”, explica Deborah.

“A cultura contra a travesti é tão esmagadora, que provoca essa violência. Começa na falta de compreensão da família, passa pela falta de acesso à educação, aos serviços públicos e ao mercado de trabalho”, conta a coordenadora do Gold, que também é vice-presidenta do Conselho Estadual de Direitos Humanos e secretária nacional de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis e Transexuais (ABGLT).  

E o preconceito extra acontece mesmo dentro do universo LGBT. “Gay, por exemplo, tem acesso às lojas dos shopping e outros espaços públicos que travestis não têm”, complementa.

Direitos

Denúncias contra essa situação vêm sendo feitas na Comissão de Direitos Humanos na Organização das Nações Unidas (ONU), na imprensa e nos órgãos públicos. “Existem somente cinco travestis doutoras no Brasil! A maioria não chega nem no ensino fundamental!”, conta a coordenadora do Gold.

A baixa escolarização praticamente as exclui do mercado formal de trabalho, levando-as a uma situação de pobreza, mas mesmo as oportunidades de cursos ou serviços gratuitos lhe são negados, devido ao preconceito. “Ela chega num curso de computação grátis, que uma prefeitura oferece, por exemplo, mas o professor não vai saber como tratá-la e ela não vai querer ficar lá. ‘O professor queria me chamar pelo nome de registro’. ‘Não quero ser humilhada, prefiro ficar na rua’”, é o que a maioria diz, relata Deborah.

Com isso, cresce o número de travestis nas ruas, usuárias de drogas, e encarceradas. As histórias se repetem, conta Deborah, ao narrar os fatos que marcaram sua própria vida. “Desde criança não é entendida pela família, que impõe uma sexualidade. Ela sai de casa, não consegue estudar, não consegue emprego, cai na prostituição, no álcool, nas drogas, na rua, e na prisão”, narra.

Afeto

No Espírito Santo, este ano, o Gold prepara uma campanha de afeto. “Uma campanha pras pessoas saberem como dar visibilidade pra uma amiga travesti, levando pra passear, colocando a foto dela no Facebook, dizendo que você tem orgulho dela”, ensina Deborah. A intenção também é fazer sorteios, de roupas e adereços, que foram doados por lojas parceiras.

No dia a dia, porém, o maior trabalho da entidade é no sentido de esclarecer as pessoas trans sobre seus direitos básicos, sejam os que são válidos para qualquer pessoa, como o acesso aos serviços públicos, como os direitos específicos, como o direito à horrmonização e ao uso do nome social.

Para a sociedade em geral, o foco do trabalho do Gold é fazer as pessoas compreenderem que, “dentro dessa enorme diversidade humana, existe também a população travesti”, acentua Deborah, acrescentando um contradição incrível: “é invisibilizada, sofre preconceito imenso, mas bate recorde quando assunto é vídeo pornô, são os mais procurados. Que sociedade é essa, que não enxerga, discrimina, violenta, mas quando o assunto é filme pornô, é a preferência?”, questiona.

Definição

Transexual é a pessoa que não se identifica com o gênero definido culturalmente pelo órgão sexual com o qual nasceu, independentemente de ter feito a cirurgia de adequação de sexo. “É uma definição cultural, porque na história do mundo, houve tempo em que todo mundo usava saia e vestido, por exemplo. O rei Luís XV inventou o salto alto”, explica Deborah.

Mais informações na página do Gold no facebook 

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