Um filme muito esperado pelos amantes da política e da história, O Jovem Karl Marx finalmente chegou a Vitória. Está em cartaz desde quinta-feira (11) no Cine Jardins, em Jardim da Penha.
A obra traz uma faceta pouco explorada do pensador que transformou a crítica ao capitalismo e a construção de uma outra proposta de sociedade. Acostumados com a figura do senhor barbudo autor de O Capital, talvez poucos tenham se debruçado na figura do jovem Marx, que viveu um período histórico agitado e iniciou sua trajetória escrevendo artigos com críticas ferozes nos jornais da época, foi exilado e liderou movimentos populares. Certamente, não haveria o velho Marx sem a trajetória desse jovem.
O filme até poderia se chamar Os Jovens Marx e Engels, pois a história de seu grande parceiro Friendrich Engels também é abordada: o filho de um grande industrial que desde jovem observa e denuncia as condições indignas dos trabalhadores. A amizade, as construções intelectuais e as militâncias conjuntas são parte da obra, embora Engels não deixe de ocupar a posição de uma espécie de “Robin” de Marx.
O filme traz como contexto a Europa do século XIX, mostrando em segundo plano as condições precárias da vida dos proletários nas grandes cidades e a exploração do super exploração trabalho durante o período Revolução Industrial. Eram frequentes acidentes nas fábricas e trabalho infantil – temas explorados em algumas cenas, como na que Marx, Engels e sua esposa interpelam e irritam um industrial ao questioná-lo sobre o uso da mão de obra infantil. “Se eu parasse de contratar crianças, os outros o fariam e eu iria à falência”. Guardadas as diferenças de época, não faz lembrar o discurso de grandes empresários nesses tempos de reforma trabalhista?
Personagens importantes na luta revolucionária como os anarquistas Proudhon e Bakunin, ou os líderes da Liga dos Justos, como Weitling e defensores do socialismo utópico, fazem parte de uma relação tensa que acompanha um jovem intelectual promissor sem muitos seguidores confrontado com pensadores e ativistas que mobilizam as massas. Relação esta que por ora prima pela cordialidade e aliança estratégica e em outras numa crítica direta, enfrentamento e até ruptura, como quando a Liga dos Justos é convertida em Liga dos Comunistas. A obsessão de Marx na superação das “abstrações” para a construção de um socialismo científico vai ser presente em sua obra e no filme.
Centrado nas ações de Marx, coadjuvadas por Engels, talvez se possa dizer que o filme passa, apertado, no “teste de Bechdel”, usado para identificar o papel das mulheres nas obras: ter no mínimo duas mulheres com nomes; as mulheres conversarem uma com a outra; sobre algo que não seja o homem.
As personagens femininas são as esposas de Marx e Engels, Jenny e Mary, uma filha de aristocratas e uma operária, respectivamente. Duas mulheres fortes, corajosas, que se fazem presentes, em menor medida, com suas histórias, contribuições e opiniões.
A juventude de Marx e Engels vai culminar com a publicação do Manifesto Comunista, umas de suas obras mais conhecidas, escrita quando beiravam os 30 anos, em 1848, mesmo ano em que acontece a Primavera dos Povos, com uma série de revoluções desatam na Europa. A partir daí já seria tema para outro filme…
O Jovem Karl Marx passa longe de ser uma produção brilhante, mas vale pelo registro de um momento histórico importante e de uma realidade que ainda pulsa: as desigualdades e injustiças que o capitalismo reforma mas passa longe de superar; e a luta pela transformação social, que até hoje encontra em Marx e Engels uma fonte muito viva.
SERVIÇO
Filme “O Jovem Karl Marx”
Local: Cine Jardins/ Shopping Jardins – Rua Carlos Monteiro de Lemos, 262, Jardim da Penha
Horário: 19 horas
Ingressos: Segunda, Terça, Quarta e Quinta: R$ 16 (inteira) / R$ 8 (meia)
Sexta, Sábado, Domingo e Feriados: R$ 24 (inteira) / R$ 12 (meia)
Mais informações: (27) 3026-8099 – de 14h às 21h.