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Angústia dos alunos do campo de Afonso Cláudio será relatada em audiência pública

Os alunos do interior de Afonso Cláudio, região serrana do Estado, expulsos do sistema escolar quando a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) fechou os cursos noturnos que frequentavam em comunidades do interior, vão ganhar voz na Assembleia Legislativa. Ainda não há data definida para a audiência pública, mas o deputado Sergio Majeski (PSDB) já anunciou realizá-la após o recesso parlamentar, na segunda quinzena da fevreiro.

A pedido da comunidade, sua realização será na Assembleia. Na capital, os estudantes esperam ter mais oportunidade de serem ouvidos pelo poder publico que, até agora, nada fez de concreto para reverter a situação, reabrindo os cursos. 

 
Até mesmo uma decisão judicial que favorece os alunos de duas escolas, a de Mata Fria e São Francisco, não foi cumprida. Para ludibriar a Justiça local, a Sedu simulou ter aberto matrículas para a escola de Mata Fria via internet. Só que a comunidade mal tinha telefonia à época. Resultado: ninguém soube da reabertura das matriculas e, lógico, não houve matricula. 
 
Além do  ensino médio dos cursos noturnos de Mata Fria e São Francisco, que devem reabrir matriculas por  decisão da Justiça,  também foram fechados os cursos  das comunidades de Vila Pontões, Fazenda Guandu e Piracema. 
 
Para os alunos dessas três comunidades, a situação é ainda pior. Perderam o ensino noturno, e também o respaldo da Justiça. É que o  juiz Luciano Fiorot, da comarca de Afonso Cláudio, negou determinar a reabertura das matrículas para o ensino médio nestas comunidades. Acatou razões apresentadas pela Sedu, que a comunidade contesta.
 
A esperança dos alunos de Vila Pontões, Fazenda Guandu e Piracema é que o promotor de Justiça do município, Valtair Lemos Loureiro, tenha sucesso no recurso  que apresentou ao Tribunal de Justiça (TJES) contra a decisão.
 
Alunos, pais, professores e outros segmentos da comunidade de Afonso Cláudio prometem continuar a luta pela reabertura do ensino noturno de nível médio nas escolas de suas comunidades. Um ato com este objetivo foi realizado na última quinta-feira (25) na cidade, mobilizando cerca de 200 pessoas.
 
Com a audiência pública na Assembleia Legislativa anunciada pelo deputado Sergio Majeski, os alunos poderão ter voz não só para mostrar sua revolta contra o fechamento dos seus cursos, mas também sua angústia por estarem perdendo tempo e se distanciando do conhecimento acadêmico.
 
Os alunos tiveram seus cursos fechados unicamente para que a Sedu preenchesse vagas na Escola Viva, na sede do município. Ocorre que as distências das comunidades até a sede de Afonso Claudio são longas e  as estradas péssimas, colocando os alunos em risco.
 
Com a mudança, os alunos também ficam, na prática, impedidos da ajudar suas famílias na agricultura. Em sua maioria, os alunos são filhos de pequenos produtores. Este trabalho é importante para a renda da família e formação profissional do aluno.
 
O deputado Sergio Majeski informa que está acompanhando o drama dos alunos de Afonso Cláudio, desde o início do problema criado pela Sedu, a partir de 2015. O deputado informou que apoia os estudantes e que está “tentando marcar uma audiência com o Juizado da Criança e da Juventude, além do Tribunal de Justiça, porque não há no arcabouço legal sobre a Educação no Brasil qualquer respaldo para isso”.
 
Majeski é o presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Políticas Públicas para Juventude da Assembleia Legislativa, e nesta condição, irá propor a audiência pública para discutir o problema. 
 
Angústia, cansaço e revolta
 
Relatos feitos durante a  manifestação na sede de Afonso Cláudio e registrados pela assessoria do deputado, mostram a angústia, o cansaço e a revolta dos estudantes. Uns pouquíssimos alunos prejudicados conseguiram alguma solução. A preço de suor e cansaço.
 
Como Matheus Gums, 17 anos, que há dois anos foi atingido pela Secretaria de Educação (Sedu) quando fechou a unidade da Mata Fria. Como opção mais próxima, os alunos de sua comunidade tiveram que se deslocar para as unidades de Serra Pelada e Garrafão. Nem todos puderam mudar de escola. 
 
“Fiquei sem estudar durante dois anos porque fechou a escola de lá. Eu não tinha como me locomover para outra unidade. Para isso, eu teria que andar 20 a 30 quilômetros por dia. É muito distante, é cansativo”, lamentou-se Matheus Gums. 
 
Luana Hoffman, 17 anos, ficou um ano sem estudar pelo mesmo motivo. Para conseguir voltar, ela tem que enfrentar diariamente 1h20 de uma estrada precária, que  na primeira chuva, por mais leve que seja,  fica intransitável. “Voltei para escola com muita dificuldade, com quase meio ano perdido, por não ter transporte para lá. Como eu tinha condição de ficar durante o dia, lutei e voltei a estudar. Mas até hoje é uma rotina muito cansativa”. 
 
Além do problema de transporte, ainda há aqueles que enfrentam outra situação, a falta de ensino noturno. Muitos trabalham para ajudar suas famílias e não têm a possibilidade de estudar nos turnos matutinos e vespertinos. É o caso de Arley Schultz, 19 anos.  “Com essa proposta que o governo fez, me tirou a oportunidade de estudar. Quando fecharam a escola de Mata Fria, acabaram nos fazendo procurar outra escola muito distante de nossa localidade. Mesmo assim, eu fui porque era noturno e ainda tinha como estudar, porque eu trabalho. Mas agora não há a mínima condição de transporte ou turno”, assinala.

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