As torneiras das casas de Cedrolândia, na zona rural de Nova Venécia (noroeste do Estado), jorram uma água com cor e gosto de ferrugem e oleosa, o que obriga os moradores a buscar água de cacimba e da chuva para beber e lavar roupas, deixando toda a comunidade com receio de possíveis doenças pela contaminação da água.
O problema começou há alguns anos, quando a Companhia Espirito-Santense de Saneamento (Cesan) entregou o serviço de abastecimento de água para o Comitê de Água de Cedrolândia (CAC), da Associação de Moradores, que não tem, denunciam os moradores, nenhuma capacidade técnica para realizar o serviço.
As fotos enviadas para a reportagem ilustram bem a afirmação, mostrando instalações velhas, sujas e com risco de ruir, além de equipamentos rudimentares e igualmente em péssimas condições de conservação. Moradores relatam que os funcionários contratados pela associação possuem outros empregos e “passam pela caixa d'água” uma ou duas vezes por dia.
As contas de água, porém, são pagas mensalmente, no valor mínimo de R$ 18, mas que, segundo os moradores, ficam sempre acima de R$ 25, chegando a mais de R$ 40 em algumas residências. A comunidade possui entre 300 e 400 casas, o que dá uma ideia do valor arrecadado mensalmente e indicam um faturamento não condizente com os serviços prestados.
A captação é feita em uma barragem construída pela Cesan no córrego que, antes de chegar à comunidade, passa por várias propriedades rurais, onde o uso de agrotóxicos é intenso. Em 2016, o córrego parou de correr a Cedrolândia passou a ser abastecida por carros-pipa.
No ano passado, um morador local resolveu abrir as duas cacimbas, ainda hoje utilizadas pela população para obter a água de beber. Todos os dias, se dirigem ao local com garrafões e baldes em busca de uma água, pelo menos visualmente, menos suja. Mas análises que confirmem a qualidade da água das cacimbas são desconhecidos pelos moradores ouvidos por Século Diário.
'Soluções individuais'
No documento Elaboração dos Planos de Saneamento Básico e Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – Prognósticos e Alternativas para a Universalização, Condicionantes, Diretrizes, Objetivos e Metas”, elaborado pelo governo estadual em 2017 para onze municípios, é descrita a condição do abastecimento de Cedrolândia.
“O Sistema de Abastecimento de Água (SAA) de Nova Venécia é operado pela Cesan nas áreas urbanas dos distritos Sede, Santo Antônio do XV e Guararema e auxilia, conforme prescrições do programa Pró rural, na operação de sistemas menores implantados nas áreas rurais dos distritos e comunidades. Algumas áreas rurais contam com soluções individuais, cujos sistemas são operados pelos próprios beneficiários, podendo, em alguns casos, não ter assistência nem da concessionária nem da administração municipal”.
A publicação informa ainda, num trecho em que refere-se explicitamente a Cedrolância, alguns aspectos do serviço prestado pela associação local: “Não há informações acerca da adutora de água bruta; a bomba da EEAB não está funcionando; extravasamento dos floculadores na ETA [Estação de Tratamento de Água]; possibilidade de acesso de pessoas e animais na área do reservatório; reservatório encontra-se em mau estado de conservação; não há monitoramento de água tratada; não há informações a respeito da EEAT [Estação Elevatória de Água Tratada]; não há informação a respeito da vazão da captação”.
Taysnara Marinho mora bem próximo da caixa d'água e diz ter medo. “`Tá’ cheio de rachaduras. Se arrebentar, a minha casa é a primeira a ser inundada”, diz. Nas redes sociais, a jovem é uma das que compartilha sua indignação e reclama por melhorias.
'Quanto mais lava, mais suja'
“Eu tenho uma caixa d'água no quintal pra captar água de chuva, que uso pra lavar roupa. A da associação eu uso pra tomar banho, cozinhar e lavar a casa”, conta, descrevendo um sistema adotado pela maioria dos moradores.
Os que não dispõem da captação de água de chuva, estragam suas roupas com a agua amarela e oleosa da ETA local. Nas redes sociais, outros moradores contam que não podem mais usar nenhuma roupa branca, porque fica tudo encardido, e que já perderam várias peças brancas por causa da água.
Para Taysnara, os pesadelos são o banheiro, que fica encardido “e quanto mais lava mais sujo fica”, e a pele e o cabelo. “A água tem uma gordura”, reclama.
Ela conta que em dezembro de 2017, a associação organizou um abaixo-assinado para pedir a volta da Cesan, mas os representantes da concessionária que foram à comunidade afirmaram que não seria possível. E um deputado que foi convidado para a reunião, prometeu que iria doar um filtro para a comunidade, mas que o presente talvez só chegasse no final de 2018.